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Jogador de 18 anos que fugiu de Gana em navio é revelação no Boca Juniors
ALEX SABINO DE SÃO PAULOAo entrar como clandestino em navio para fugir de Gana, Bayan Mahmud, 18, sonhava com o futuro na Europa. Escondeu-se carregando uma garrafa d'água e um saco de farinha de trigo. Não sabia, mas o destino da embarcação era a Argentina.
Três anos depois, ele é hoje uma das grandes revelações das categorias de base do Boca Juniors, o clube mais popular do país. Já ouviu até sobre a possibilidade de se naturalizar para defender a seleção de Messi no futuro.
"Tudo o que fiz foi sobreviver e acreditar que a vida me reservava algo de bom depois de tudo isso", disse à Folha.
"Sorte" é a palavra que aparece sempre no discurso do lateral direito do time sub-20. Aos dez anos, seus pais foram mortos em briga entre as etnias Mamprusi e Kusasi.
Bayan e o irmão mais velho, Muntala, acharam os corpos ao chegarem em casa. Os dois perderam contato quando, cinco anos mais tarde, o orfanato em que moravam foi atacado por atiradores.
"Sobrevivi porque consegui correr rápido."
Sem dinheiro, chegou à cidade portuária de Cape Coast. Teve a ideia de se esconder no navio e ir embora. A água e a farinha logo acabaram. Sobreviveu porque um marinheiro lhe deu comida.
O desembarque na Argentina foi em Rosário. Vagou pelas ruas até encontrar família que o alimentou e o colocou no ônibus para Buenos Aires.
A sorte o ajudou de novo. Encontrou senegaleses que o levaram ao departamento de imigração. Mahmud pediu visto como refugiado.
A única distração passou a ser o futebol. "Comecei a jogar na rua, quando uma pessoa me perguntou se eu não queria fazer teste no Boca." O autor do convite era Ruben García, olheiro do clube.
O africano agradou e foi morar na Casa Amarilla, o Centro de Treinamento do time. A habilidade lhe o apelido de "Maradona ganês".
Hoje, recebe R$ 700 por mês. Acordo com a Nike rende mais R$ 750. Valores modestos no mundo da bola. Para a realidade de Gana, algo que nunca pensaria ganhar.
Mahmud fala sobre o desejo de virar profissional. Só vacila quando questionado sobre a possibilidade de defender o país adotivo. "A Argentina me deu tudo. Mas minha casa é Gana", finaliza.