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Brasil treina com carrinho de mercado para enfrentar Ferrari e BMW em Sochi

Equipe de bobsled improvisa trenós na preparação e terá rivais com tecnologia de F-1 durante os Jogos Olímpicos de Inverno

MARCEL MERGUIZO DE SÃO PAULO ISABELA PALHARES DE RIBEIRÃO PRETO

O trenó é improvisado com qualquer objeto, seja um carrinho de carregar colchões, de supermercado ou até mesmo um carro e uma moto.

O pedreiro Odirlei Carlos Pessoni, 30, e o personal trainer Fábio Gonçalves Silva, 36, ambos de Franca (a 400 km de São Paulo), usam esses equipamentos nos treinos para defender o Brasil no bobsled dos Jogos Olímpicos de Sochi, na Rússia, entre os dias 18 e 23 de fevereiro.

A dupla está entre os seis brasileiros (quatro homens e duas mulheres) escolhidos para descer 1.500 m praticamente às cegas dentro um trenó em até 150 km/h de medo.

"Só sendo burro para descer com essa velocidade no gelo e não desistir. Não é coragem não, é burrice mesmo", brinca Silva, que, na ausência de uma equipe qualificada para auxiliar a equipe brasileira, adapta seus conhecimentos de pedreiro à arte da mecânica dos trenós.

Mas os trenós, modelo 2010/11, comprados de segunda mão no ano passado do time de Mônaco e considerado novos por ter quatro anos de uso, ficam nos EUA e não são usado nos treinos no interior paulista. Sem patrocínio e infraestrutura, Pessoni e Silva adaptaram os treinos de atletismo, seus esportes originais, para o bobsled e buscaram alternativas para simular o trenó.

"Nós treinamos com qualquer coisa, até empurrar carro nos ajuda", disse Pessoni. "Tinha feito um trenó, uma espécie de carrinho de rolimã com um carrinho de supermercado, mas vendi nesta semana para ajudar em casa."

QUASE UMA F-1

Enquanto o Brasil treina com veículos improvisados, tem somente trenós usados à disposição e cogita alugar um modelo zerinho para não passar muita vergonha em Sochi, as equipes mais fortes descerão a ladeira na Olimpíada a bordo de marcas de luxo.

"O delas é um BMW, e o nosso, um carro 1.0", compara Sally da Silva, 26, que passou em uma seletiva no início de 2013 e competirá nas duplas femininas ao lado da piloto Fabiana Santos, 31.

Quando a brasileira cita a construtora alemã que já teve time de F-1 não é uma metáfora. A BMW é uma das principais patrocinadoras do Comitê Olímpico dos Estados Unidos e desenvolveu seis trenós de fibra de carbono para as duplas do país para Sochi.

Para a equipe da Itália, os trenós são projetados pela escuderia Ferrari. Já os suíços, contam com apoio da Audi.

Não há valor de venda destes modelos, mas comparativamente um trenó novo pode custar mais de R$ 260 mil --a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo, com verba da Lei Piva, pagou US$ R$ 52 mil em cada um, usado.

"A Alemanha tem um laboratório próprio de pesquisas com direito a túnel de vento como na F-1 e mais de US$ 1 milhão de investimento em tecnologia por ano. Um trenó usado fica bem mais barato por causa do avanço em material, tecnologia e pesquisas", explica o técnico brasileiro, Cristiano Paes, residente no Canadá desde 2002.

Há ainda as quatro lâminas do trenó --cada jogo custa cerca de R$ 40 mil--, outro trunfo dos times que podem investir em equipamentos.

"No material humano a gente está bem. Treinamos há oito meses. A diferença está na máquina", disse o piloto Edson Bindilatti, 34. Os brasileiros não têm patrocinador e nem ganham bolsas.

Hoje, o quarteto masculino e a dupla Sally e Fabiana não têm como objetivo ganhar uma medalha nos Jogos, que tem sua cerimônia de abertura no próximo dia 7.

Concluir quatro descidas e ficar entre as 20 melhores de 30 equipes será cumprir o objetivo para eles. Para elas, estar em uma Olimpíada de Inverno já é um feito heróico.


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