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Incomum
Oswaldo de Oliveira, que comanda o Santos na final, nunca jogou bola, já foi modelo e só ganhou confiança para ser um técnico de ponta no Japão
"Dizem que sou zen, mas eu evito um pouco esses lugares comuns. Sou o que sou, sem a necessidade de criar um personagem", diz o técnico do Santos, Oswaldo de Oliveira, aos 63 anos.
O técnico, de fato, não é daqueles que parecem cultivar características marcantes para ganhar espaço nos programas de TV.
Por outro lado, no universo da histórias do futebol, Oswaldo não deixa de ser um personagem peculiar.
O treinador do Santos, que disputa hoje no Pacaembu sua terceira decisão seguida de campeonato estadual, é definitivamente um técnico incomum --tanto pela sua personalidade quanto por sua trajetória.
É admirador de literatura --leu, por exemplo, toda a obra de Jorge Amado-- e de música instrumental.
Diferentemente de grande parte dos técnicos, nunca foi jogador. Enquanto treinadores hoje consagrados, como Felipão, Muricy e Marcelo Oliveira, ganharam experiência como atleta nos campos, nos anos 70, Oswaldo trabalhou como modelo nesse período.
"Fui o garoto-propaganda da Coca-Cola na Copa de 1978", lembra. "Em todos os intervalos de jogo, lá estava minha cara."
Oswaldo surgiu para o Brasil como técnico em 1999. Era assistente de Vanderlei Luxemburgo no Corinthians.
Quando Luxemburgo foi chamado para a seleção, seu braço direito herdou o time formado por Marcelinho, Ricardinho, Rincón e Edilson.
O quarteto era famoso pelo futebol muito acima da média assim como pelos temperamentos difíceis.
De cara, Oswaldo conquistou um Paulista, um Brasileiro e um Mundial, além do respeito de todos.
Havia conseguido apaziguar as rusgas. "Eu adorava trabalhar com aqueles caras", conta.
Oswaldo, porém, viu o sucesso diminuir com o tempo.
Do próprio Santos, que dirige hoje, acabou demitido, em 2005, após três derrotas em 16 jogos. "Até hoje eu não entendi aquilo."
Em 2007, aceitou uma oferta para dirigir o Kashima Antlers, do Japão. No país onde a maioria dos jogadores e treinadores brasileiros vão para ensinar, Oswaldo aprendeu.
"Foi depois do Japão que ganhei confiança para me solidificar como técnico."
O Japão, aliás, tem um lugar especial nas suas recordações. Entre 2007 e 2011, conquistou três campeonatos japoneses, duas Copas do Imperador, duas Supercopas e uma Copa da Liga. Tornou-se um ídolo.
Ganhou o apelido de "Mágico de Oz" em referência aos seus feitos pelo clube e à primeira sílaba de seu nome.
Em 2010, foi lançada no Japão a sua biografia, "A Favor do Vento". Ele nunca a leu. "Só saiu em japonês", conta, entre risos.
DE ROMÁRIO A SEEDORF
Oswaldo não entende os treinadores que confrontam as estrelas do time e impõem a autoridade aos gritos.
"Bater de frente para quê?", indaga. "Eu não faço isso, e os jogadores fazem o que eu peço também."
Assim, conquistou a admiração de jogadores como Romário, Juninho Pernambucano e, recentemente, o holandês Seedorf, atual técnico do Milan, a quem dirigiu no Botafogo do ano passado.
"O Seedorf, que eu chamava de Clarence, é um cara sensacional, de uma simplicidade assustadora", afirma. "Sem perder as características próprias, adaptou-se totalmente ao Brasil."
O mesmo traquejo que tem com os medalhões, Oswaldo mostra com os garotos.
"O Geuvânio, por exemplo. Tem muito talento, mas chegou a ser considerado descartável. Agora, pode ser escolhido o melhor do Paulista. É preciso administrar esse tipo de coisa com o jogador", diz.
"Nunca fui jogador, mas cresci dormindo no meio de dois", conta ele, ao se referir aos irmãos Waldemar Lemos, hoje técnico do América, de Pernambuco, e Serginho, hoje distante do futebol.
"Me lembro das angústias deles e acho que é por isso que entendo tão bem as cabeças dos jogadores."