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A minha copa

O título renegado

Depois de cinco frustrações, a conquista do Mundial dos EUA inebriou gerações que só conheciam o fracasso

POR MÁRIO MAGALHÃES

Não sei se rende diploma de pé-quente, fico encabulado de falar, mas nas Copas que cobri, 1994, 1998 e 2002, a seleção alcançou a final.

Por conta de umas questões paralelas, não pude topar os convites para viajar à Alemanha e à África do Sul, nos Mundiais seguintes, e deu no que deu.

Copa é Copa.

Guardo como reminiscência cara a decisão no México em 1970, acompanhada em preto e branco pela TV. Aos seis anos de idade, passei o jogo picotando jornal para atirar pela janela, na celebração do triunfo.

Vi ao vivo Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho devorando a bola na Coreia do Sul e no Japão, nos idos de 2002.

No entanto, nem com o timaço do tri, nem com o penta da turma de erres, contudo, eu fui tão feliz como no título renegado por tantos brasileiros que desdenham o tetra como nódoa a macular a camisa canarinho.

Não há do que se avexar. Depois de cinco frustrações, inclusive com o escrete dos sonhos regido por Telê em 82, a conquista da Copa dos EUA inebriou com a vitória gerações que só conheciam o fracasso e outras que já não se lembravam de como era vencer.

Assisti ao Bebeto embalando o bebê ao comemorar seu gol contra a Holanda. Vacilão, eu não notara na hora, no jogo anterior, que ele havia agradecido um passe do Romário com a declaração "eu te amo".

Flagrei, com os colegas de jornal, o ônibus da seleção quebrado à beira do caminho. O gênio Antônio Gaudério fotografou com exclusividade os jogadores a pé no acostamento da rodovia. Furo!

Contaram-me sobre o harém cultivado por alguns dos nossos craques. Nem se o torneio se estendesse por meses eles dariam conta da infinidade de beldades que os assediavam feito beque no cangote.

Até o meu último grito de gol não apagarei da memória o mais perseverante exercício de tolerância que testemunhei. O protagonista? Carlos Alberto Parreira.

O cristão apanhou, e muito, sem deixar de oferecer a outra face. Acusavam-no de retranqueiro, e sua equipe liderava em chances de gol.

Avacalhado como avesso ao futebol-arte, o técnico prezava a posse de bola, antecipando o Guardiola do século 21.

Tinha excessivas precauções defensivas? Parreira ensinava: imagine o desgaste físico de sair atrás no placar com jogos sob o sol do meio-dia.

Numa tenda montada ao lado do campo da Santa Clara University, não se cansava de responder serenamente às perguntas mais implacáveis.

Ao bater a Itália nos pênaltis -alguém supõe que passar pelo Baresi era moleza?-, chegara o seu momento. Fosse um ressentido vulgar, Parreira teria ido à forra.

Eu o provoquei, instando-o a reagir à pancadaria recente, e ele repetiu que compartilhava o sucesso com todos. Os repórteres indagaram: por que não desabafava? Considerava-se um homem bafejado pela sorte?

Comportava-se assim porque esse era o seu jeito, disse o campeão, evocando a canção clássica: "Como diria o Frank Sinatra, it's my way".

É isso aí: Parreira citou Sinatra no tetra. Dá para esquecer a Copa de 94?


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