Folha de S.Paulo

Quando penso que posso levantar a taça, fico arrepiado

MARCEL RIZZO DE SÃO PAULO

Na próxima quarta, Luiz Felipe Scolari vai anunciar os 23 jogadores que defenderão o Brasil, em casa, na Copa que começa em 12 de junho.

Dois deles encabeçam a lista de Felipão: Neymar, o craque, e Thiago Silva, o capitão.

Aos 29 anos, Thiago Silva será um dos cinco ou seis (dependendo da lista final) que já disputaram um Mundial --o de 2010, na África do Sul.

Por isso, é o homem de confiança do treinador e, por ter a tarja de capitão, terá a honra de erguer a taça se o time vencer a Copa no Maracanã.

"Eu sonho com isso sempre. Às vezes, fico pensando na cena, fico arrepiado", disse, em entrevista por e-mail.

O jogador avalia que a Croácia será o adversário mais difícil na primeira fase, logo o rival da estreia (a seleção ainda pega México e Camarões). E cita os "peixes grandes" que terá que parar no Mundial para o Brasil vencer.

Folha - A pouco mais de um mês para a Copa, como você avalia a preparação da seleção?

Thiago Silva - Diria que em bom nível. É complicado ter uma preparação 100% correta, mas acho que chegamos o mais perto disso possível. Tivemos competições importantes, jogos difíceis, traçamos objetivos e agora chegou a hora de finalizar tudo isso com chave de ouro. Vamos chegar totalmente concentrados para o primeiro jogo.

A comissão técnica esteve na Europa acompanhando jogos e visitando jogadores. O quanto é importante esse contato?

É fundamental ter essa integração. É ótimo para o atleta receber esse acompanhamento e excelente para o treinador também, que pode conversar mais com o técnico do jogador no clube, trocar ideias e melhorar o aproveitamento em campo.

Uma das preocupações da comissão técnica é com atletas que têm jogado nos clubes fora da posição habitual. O David Luiz vem atuando de volante. Isso te preocupa?

Depende do caso. Falando do David, em específico, não vejo problemas. Ele é um cara super inteligente taticamente e só tem a ganhar com essa improvisação. Quanto mais versátil for o jogador, melhor ele é para o futebol atual. Na nossa seleção, não é diferente. É claro que preocuparia se fosse uma posição muito diferente, mas, no caso do David, não me preocupa não.

Os dois primeiros capitães da seleção que ergueram a Copa eram zagueiros. Você já se imagina erguendo a taça?

Eu sonho com isso sempre. Às vezes, fico pensando na cena, fico arrepiado. Mas, na vida, não adianta só ficar sonhando, é preciso trabalhar para alcançar nossos sonhos. E, se depender de mim, vou dar a vida por esse título.

Por que, na sua opinião, os zagueiros são escolhidos mais vezes como capitães?

Porque é natural do zagueiro ter características de liderança dentro do time. Você vê o jogo inteiro ali de trás e comanda toda a defesa muitas vezes. Cabe ao zagueiro saber lidar com essa liderança. O goleiro também tem muito disso. São posições de muita responsabilidade.

O grupo ficará bem isolado em Teresópolis (RJ). Qual a importância dessa privacidade?

É um momento de muita concentração e foco para os jogadores. Precisamos chegar para o primeiro jogo totalmente atentos a tudo. O apoio da torcida é fundamental, nos ajuda muito, mas é preciso ter um momento de mais seriedade para o grupo.

Qual seleção pode trazer mais dificuldade na primeira fase? E qual seleção pode atrapalhar a conquista do título?

Nossos três primeiros adversários podem nos causar problemas. Creio que a estreia sempre nos traz mais preocupação. Bate aquele nervosismo do primeiro jogo. E a Croácia tem um time renovado, com jogadores em grandes times europeus. Vai ser um desafio e tanto. Mas tenho certeza de que estamos preparados para isso.

Na briga pelo título, teremos diversos adversários complicadíssimos também. A Alemanha, a Argentina, a Espanha, isso sem falar no Uruguai, que sempre faz grandes partidas contra nós.

Em entrevista à Folha, Parreira disse que não se preocupa com o "monstro" Messi porque tem na zaga o "monstro" Thiago Silva. Acha que Messi pode ser o atacante mais complicado para se marcar?

O Messi já provou para o mundo inteiro o quanto de craque e de gênio ele pode ser num jogo. Mas tem muito "peixe grande" para eu parar (risos). Marcar o Cristiano Ronaldo é muito difícil também. Tem o Van Persie, o Rooney...

Como você avalia a primeira temporada de Neymar na Espanha?

Ele mesmo já sabia que seria uma temporada de adaptação. Acho até que ele engrenou rápido. Mesmo com toda a dificuldade da diferença no estilo de jogo e na cultura do esporte, mesmo com as contusões e toda a pressão, ele conseguiu se tornar titular.

Ainda vai dar muitas alegrias para a torcida do Barcelona. E vai nos ajudar demais nessa Copa.

A seleção é jovem e poucos participaram de uma Copa. Preocupa essa inexperiência ou pode ser uma vantagem?

Realmente temos jogadores jovens para o tamanho da responsabilidade. Mas eles estão prontos para essa pressão. Além do mais, eu, o Júlio César, o David [Luiz], o Fred, o pessoal mais experiente, nós costumamos conversar muito com eles. Eles são ótimos garotos. Sabem da responsabilidade que têm e sempre seguem conselhos.