Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Esporte

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista - Jefferson

Negro ou branco, todos falham; não acredito no fantasma do Barbosa

Reserva de Júlio César na seleção diz que está preparado para ser o titular

SÉRGIO RANGEL DO RIO

Jefferson teve que pensar rápido para começar no futebol. Aos 14 anos, entrou em campo como atacante num torneio em Foz de Iguaçu e recebeu proposta para ser goleiro do Cruzeiro.

"Como não tinha empolgado na linha, dei um migué'. Me apresentei ao observador do clube e disse que estava quebrando um galho no ataque, mas era o goleiro. Minutos depois, ele me convidou para treinar em Belo Horizonte. Nunca vi isso na vida. Ganhei uma oportunidade sem ter mostrado nada em campo. Só Deus explica", lembrou o botafoguense de 31 anos, nascido em São Vicente, no litoral de São Paulo.

A partir do dia 26, ele vai tentar superar o titular Júlio César para disputar a Copa. Com 1,89 m de altura e 93 kg, Jefferson quer ser protagonista da seleção e não se intimida com as comparações com Barbosa, goleiro acusado de falhar na decisão da Copa de 1950 em pleno Maracanã.

"Não acredito nisso. Em campo, o que vale é a competência e o profissionalismo. Isso eu tenho."

Em entrevista à Folha, Jefferson diz ter consciência que é um exemplo para os negros, revelou que não faz nenhuma preparação emocional para suportar a pressão no Mundial e admite que entende os protestos contra a Copa.

"Quero jogar [na Copa]. Não tenho que treinar para mostrar que sou melhor. O que é meu está guardado. Eu tenho que olhar para o Felipão e mostrar que estou preparado", disse o goleiro, que foi lançado no futebol profissional por Luiz Felipe Scolari em 2001, quando o técnico da seleção comandava o Cruzeiro.

Folha - Qual a sua expectativa para a Copa?
Jefferson - A ficha ainda não caiu. Nenhum dos convocados tem ainda uma ideia clara da repercussão de jogar uma Copa no Brasil. Isso é até bom, mas sabemos que uma nação inteira vai torcer. Será a maior aventura da minha vida. Todos os convocados vão dar uma tietada na Granja Comary. No começo, vamos tirar fotos dos detalhes, dos companheiros. Vamos guardar camisas, bolas. Essa experiência vai ficar marcada na vida de todos para sempre.

Como é conviver com o fantasma do Barbosa?
Não acredito nisso. Infelizmente, pegaram um para crucificar. O Barbosa se doou muito e não merecia esse rótulo. Errar é humano. Todos falham: goleiro branco, goleiro negro. Em campo, o que vale é a competência e o profissionalismo. Isso eu tenho.

Você já sofreu com o racismo?
Não sofri diretamente. Às vezes, você acha que algumas coisas parecem racismo. Mas nunca me apoiei nisso. Esse é um caminho para você se entregar. Nunca pensei que não fui convocado ou não fui para um jogo por causa disso. Nunca lamentei. Por isso, sempre rompi obstáculos.
Tenho consciência de que posso ser um exemplo para os negros. Muitos goleiros me mandam mensagem me apoiando e dando parabéns pela convocação. Muitos negros me parabenizam por representá-los na seleção. Falam da importância da minha presença lá. Sei da minha responsabilidade. E acho que isso é um desafio positivo.
Na Copa, tenho que estar forte para mostrar competência independente da cor.

Você faz algum trabalho emocional para suportar a pressão do fantasma do Barbosa?
Não. Sou ao contrário. A minha preparação é não pensar. Procuro viver o meu dia. Treino muito aqui no Botafogo, mas quando acaba vou ficar com a minha família.
Só penso nas partidas quando está próximo. Se ficar pensando toda hora no jogo, você cria um gigante que vai ser difícil superar. As pessoas ficam me perguntando como vai ser enfrentar o Messi, o Cristiano Ronaldo. Não é um bicho de sete cabeças. Tem que viver passo a passo. Quando chegar a hora, chegou. Vamos enfrentá-los.

Como é o convívio com o Felipão, que o escalou pela primeira vez como profissional?
Ele é muito profissional. Tenho muito carinho. O Felipão não mistura as coisas. Em 2001, ele foi para a seleção. Os jogadores do Cruzeiro ficaram esperando ser convocados, mas ele não chamou ninguém. Ele tem confiança nos seus escolhidos.

Você já sonhou jogar a Copa pela seleção?
Procuro viver passo a passo. Se não, atropelo as coisas. Não gosto de ficar pensando lá na frente. Quero treinar e fazer o melhor no Botafogo. A partir do dia 26, vou pensar na seleção. Não gosto de sonhar, gosto de fazer, de produzir.

Você se destacou no Botafogo nos últimos quatro anos. Como é ser reserva de um goleiro que ficou mais de seis meses sem jogar e atualmente defende um time canadense?
A minha luta não é com o Júlio César ou com o Victor. Quero jogar [na Copa]. Não tenho que treinar para mostrar que sou melhor. Eu faço o meu melhor. Na seleção, quero mostrar ao Felipão que estou preparado. O que é meu está guardado. Eu tenho que olhar para o Felipão e mostrar que estou preparado.

A Copa deve ser disputada em meio a protestos. Você teme que isso atrapalhe a seleção?
Temos certeza de que os protestos não são contra a seleção. Na Copa das Confederações, ficamos em dúvida. Mas os torcedores estiveram com a gente. Foi uma experiência fantástica em cada cidade. Mas entendo o protesto das pessoas que estão nas ruas.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página