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Marcelo Tas

Estranho no ninho

105 m x 68 m

Há um pedaço do território nacional imune à esculhambação geral: o campo de futebol

Botar bandeirinha do Brasil no carro significa que sou a favor ou contra o Brasil? É a dúvida do motorista de táxi.

Faltam seis dias para a Copa. Há estádios em construção, aeroportos vazando e o site de ingressos da Fifa não funciona bem. Não vou deixar meu compatriota taxista com mais uma angústia no peito. Cutuco o celular atrás de uma resposta na Wikipedia.

O território nacional tem 8.514.876 km² povoado de roubalheiras, mutretagens, trânsito caótico e brasileiros outrora cordiais que hoje picam o zelador do prédio em pedacinhos por causa da entrega do jornal.

Aqui dentro cabem 48 Uruguais; 279 Bélgicas; ou duas vezes a Comunidade Europeia completinha. Mais dramático, nosso problema não é só o tamanho da bagaça. É a variedade de desejos. Como harmonizar a nação dos manos do rap de São Paulo com a de pagodeiros de Uberlândia e metaleiros em Goiânia; de sanfoneiros gaúchos que nada têm a ver com os nordestinos; de índios kaxinawás que convivem na Amazônia com caboclos doidos por música eletrônica na periferia de Belém do Pará? Complicado, né...

Mas repare. Há um pedaço do território nacional imune à esculhambação geral. É um retângulo de 105 m x 68 m cuidado com atenção e civilidade incomuns. Lá dentro as leis são obedecidas com rigor, a Justiça pune os faltosos sem atrasos, a malemolência é combatida com acréscimos no expediente e o mérito do trabalhador é reconhecido, valorizado e cobrado por toda nação. É o campo de futebol.

Qualquer deslize dentro das quatro linhas de 12 cm de espessura é criticado e analisado cientificamente por especialistas ilustres como os meus queridos colegas deste caderno. É chegada a hora, brasileiros. Vamos recomeçar tudo a partir do retângulo civilizatório do futebol. Bola pra frente que a gente faz um país.


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