Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Ana Estela
Estranho no ninho
Mais calor, por favor
Zero a zero premiado corrói a competitividade. É como dar comissão a quem não vende
No último domingo, meu amigo Benoit dormiu assistindo Palmeiras X Grêmio. Péssimo negócio para times, emissoras e anunciantes. Há algo de muito ineficiente em um espetáculo que deixa seu consumidor dormir.
Esse nem foi um jogo dos piores, mas é exemplar de como o futebol pode ser tão fraco quanto a economia brasileira quando se trata de produtividade. Em que outro esporte uma partida pode durar 90 minutos, terminar sem gol nenhum e --o mais grave, o realmente grave-- os times ainda ganharem pontos por isso?
Zero a zero premiado corrói a competitividade. É o mesmo que pagar comissão a equipe que não vende nada. Até no judô, mais paradão, há armas antitédio: lutador que não mostra agressividade é punido.
Para começar, é preciso acertar a meta: vencer ou mostrar um jogo interessante? A lógica corrente é que a vitória interessa (vale três pontos), empate é vantajoso (vale um) e perder não é problema (o derrotado nada sofre).
Mas, assim como nas empresas não adianta só empurrar mais quantidade sem vender um mix lucrativo, o melhor produto do futebol não é a simples vitória, e, sim, a emoção que ele entrega. Se a premissa faz sentido, a "bonificação por desempenho" precisa mudar. Se, por exemplo, os times perdessem pontos nos empates sem gols, veríamos jogos mais disputados.
Claro que a pressão sobre o esporte é menor, porque o mercado é protegido. Nem times mais aguerridos podem vir disputar o público, nem os torcedores vão sair correndo para ver algo mais animado, como hóquei no gelo ou mesmo vôlei. Além disso, como todo gestor sabe, é preciso cuidado com punições e premiações: há um equilíbrio delicado entre estimular a competição e manter o senso de equipe.
Não será problema na Copa. Mas os dirigentes do futebol fariam melhor se mantivessem Benoit acordado.