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Pontapé inicial simbólico ocorre de forma discreta

Chute dado por paraplégico usando veste robótica foi exibido por segundos na TV e deixa dúvidas sobre avanços do projeto

FERNANDO TADEU MORAES DE SÃO PAULO

Um dos momentos mais aguardados da abertura da Copa do Mundo passou de forma quase despercebida. O pontapé inicial simbólico da competição dado por um jovem paraplégico utilizando uma veste robótica controlada pelos seus sinais cerebrais ocorreu na lateral do campo e durou poucos segundos.

Mais tarde, a TV Globo voltou a exibir as imagens, elogiando o feito. Em câmera lenta, foi possível ver o rapaz mexendo a perna e chutando a bola. As imagens, porém, não mostram o brasileiro caminhando, como havia sido prometido pelo projeto.

Um texto no site oficial da Copa, publicado no dia 9 de junho, afirma que "um paciente paraplégico, movimentando uma veste robótica controlada pela atividade cerebral (exoesqueleto), irá se levantar de uma cadeira de rodas, caminhar por cerca de 25 metros no campo e dar o primeiro chute da Copa".

Resultado de quase dois anos de esforços, o projeto Andar de Novo que desenvolveu o esqueleto-robô batizado de "BRA-Santos Dumont 1" foi liderado pelo neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que trabalha desde o fim dos anos 1980 nos Estados Unidos. O projeto recebeu R$ 33 milhões do governo federal.

Pelo Twitter, Nicolelis comemorou: "We did it!!!" [conseguimos]. Em sua página no Facebook, internautas aplaudiam o feito, outros reclamavam por não terem visto a apresentação e outros se diziam decepcionados.

"Nem deu pra saber exatamente o que aconteceu. Eu fiquei sem saber se na hora H não funcionou ou se era só aquilo mesmo, já que não houve nenhum tipo de anúncio nem nenhuma informação", disse a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, colunista da Folha.

O fato de Nicolelis não ter publicado nenhum artigo científico descrevendo o exoesqueleto e não ter dado declarações após o pontapé inicial torna impossível avaliar o projeto e saber quanto da demonstração foi controlado pelo robô e quanto foi controlado pelo usuário.

A pessoa que utilizou a veste robótica chama-se Juliano Pinto, 29, é atleta, vive na cidade de Gália (a 393 km de São Paulo) e sofreu o acidente de carro que o deixou paraplégico aos 26 anos. Juliano é um dos oito voluntários que participaram dos testes na AACD, em São Paulo.

Por meio de sua assessoria, Nicolelis disse que esse "é só o começo de um futuro em que pessoas com paralisia poderão abrir mão de cadeiras de rodas e, literalmente, andar de novo". Segundo ele, os resultados serão apresentados à comunidade científica por meio de publicação em revistas científicas nos próximos meses.

Segundo especialistas ouvidos pela Folha nos últimos meses, embora tenha sido a primeira vez que foi apresentado um exoesqueleto que recebe comandos do cérebro e devolve estímulos táteis ao usuário por meio de uma pele artificial, os componentes são conhecidos e já foram usados anteriormente.

Já há pelo menos dois projetos internacionais terminados que resultaram em exoesqueletos similares ao divulgado por Nicolelis e que fizeram os usuários caminhar. Já a tecnologia de pele artificial é conhecida há quase uma década.


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