Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Denise Fraga
estranhos no ninho
Sorria, você está...
Sempre me pergunto se os jogadores lembram o tempo todo que estão sendo filmados
Impossível descrever a cara de "não sei quem fui" de Marcelo, logo após o gol contra que marcou a estreia da nossa seleção na Copa. Olho arregalado, sobrancelhas de cachorro abandonado, susto, medo e injustiça num fio de esperança de que ninguém tivesse visto. Só vendo mesmo.
O futebol produz emoções incríveis, e meu consolo por não ter conseguido um ingresso sequer nos misteriosos sorteios da internet é vê-las em close no aconchego do meu sofá. Como esquecer o peixinho do Van Persie, a voadora do Neymar, o olhar ameaçador de Martins para Diego Costa e a profunda fechada de olhos de Del Bosque, que parecia prever o triste fim de seus maduros rapazes contra a Holanda? Que jogaço! Diante do show de bola de Robben, eu quase respondi do sofá aos beijinhos que ele mandava pra câmera depois dos gols.
Sempre me pergunto se eles lembram o tempo todo que estão sendo filmados ou se esquecem diante da adrenalina exigida. Alguns parecem se esquecer completamente, até assoam o nariz. Outros, porém, agem como se tivessem a noção exata de seu melhor ângulo, capricham no penteado e ainda arriscam umas olhadinhas pro telão. Uma espécie de "atletator", com total noção do seu personagem no campo de batalha.
Nosso protagonista, Neymar, têm demonstrado muita intimidade com as câmeras e deixa vazar nitidamente o personagem que imagina para si mesmo.
O que eu acho curioso é como o rapaz, que tem tanta desenvoltura e consciência das lentes, parece esquecer que do lado de cá tem milhões de brasileiros contorcidos nos sofás, torcendo para seus gols, bebendo seu refrigerante e usando suas cuecas.
Depois dos gols, nosso craque continua lá, imbuído de seu personagem Calvin Klein de poucos sorrisos, fazendo do campo sua passarela exclusiva. Não precisa me mandar beijinhos como o Roben, mas, por favor, me inclua nos seus gols. Beijarei seus pés.
