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Sem casa, vítimas de tragédia visitam a seleção na Granja

ELIANE BRUM DA ENVIADA A TERESÓPOLIS

Na arquibancada da Granja Comary havia a dor de 100 mortos e 20 desaparecidos. É o que perderam as 50 crianças e 30 adultos que tiveram permissão nesta quarta-feira (25) para assistir ao treino da seleção. São vítimas da tragédia de 2011, em que as chuvas e o descaso do poder público mataram centenas. Antes do início da Copa, Flávio da Silva, da Associação das Vítimas das Chuvas de Teresópolis (Avit), fez um protesto: botou a camisa amarela e cobriu o rosto e o corpo de lama: "Aqui não é só a casa da seleção. É também a casa das vítimas". As vítimas entraram na casa da seleção. Mas continuam sem casa.

Foi difícil escolher 50, entre 4 mil crianças e adolescentes sobreviventes. "Fizemos uma escolha espiritual. Veio quem perdeu mais gente", disse Joel Caldeira, da Avit. Marcos Vinícius Ferreira, 14 anos, perdeu a mãe e outros 26 parentes. O pai ficou soterrado por 16 horas. Marcos, arrastado por quatro quilômetros pela enxurrada. "Achei que ia morrer. Cada vez que tentava respirar, me afogava", diz. Conta que seu pai, pedreiro, ajudou a construir a Granja Comary. Agora, não tem teto seu.

São duas narrativas, fora e dentro do campo. Enquanto meninos contam um drama grande demais para tão pouca vida, os jogadores driblam sobre o gramado. Na arquibancada ao lado, o público é o de sempre: patrocinadores, convidados, familiares de Ronaldo. Torcendo pelos seus ídolos, as crianças de um lado e outro quase se misturam. Mas, quando se apresentam, aqueles que têm pesadelos a cada chuva se anunciam: "Eu sou da tragédia". É uma identidade, assim como a camisa amarela da seleção. Quando a Copa acabar, ainda serão os da tragédia. Três anos e meio depois, ainda continuarão sem casa.


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