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Depoimento

Depois de três décadas, vou me mudar do bairro

MARCELO LEITE DE SÃO PAULO

Três décadas atrás, quando me mudei do Baixo Augusta para a Vila Madalena, os bares apenas começavam a chegar. Entre os primeiros estavam o Olívia, na famigerada esquina da Aspicuelta com a Mourato Coelho, e o BarTolo.

Naquele tempo as pessoas iam ao bar para conversar, o que hoje parece impossível. Política, cinema, literatura, filosofia, revolução, psicanálise --tudo era assunto para impressionar as moças ou impressionar-se com elas.

Com o tempo, os estudantes da USP se tornaram profissionais, e o bairro se "gentrificou". Os botecos viraram território de outra moçada, mais indiscriminada em matéria de beber, beijar e pegar.

A Copa é só mais um pretexto para se esbaldar. Um pouco mais do que os moradores já enfrentam algumas vezes por ano, com a Feira da Vila e os blocos de Carnaval. Qual é o problema?

O problema é que a turma é de selvagens. Gritam debaixo de sua janela, urinam pelos cantos, dirigem embriagados e atraem ladrões e flanelinhas. As famílias já não levam cadeiras para a calçada.

E não é só no Carnaval e na Copa. A partir de quinta o pessoal começa a perder a noção. A prefeitura acordou meio tarde para a invasão e o rastro de lixo e amônia que fica para trás. Mas o que, afinal, não foi improviso no torneio?

Uma cidade como São Paulo precisa de bairro assim, em que as paixões possam transbordar. Um pouco de educação viria a calhar, mas nunca foi a regra de hordas, menos ainda quando o motivo é futebol.

É bom poder caminhar até restaurantes, livrarias e lojas bacanas.

Mas, por essas e por outras, mudo de bairro em agosto. Vou para a Vila Romana, que tem um jeito de Vila Madalena três décadas atrás.


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