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Arenas X estádios

Oito dos 12 complexos da Copa do Mundo são chamados de arena; mas o que as diferencia de um estádio? Conceito é moderno e antigo

MORRIS KACHANI DE SÃO PAULO

Dos 12 complexos que foram reformados ou construídos para a Copa do Mundo de 2014, oito ganharam o nome de arena: tem a Pernambuco (Grande Recife), a Pantanal (Cuiabá), da Amazônia (Manaus), da Baixada (Curitiba), das Dunas (Natal), Fonte Nova (Salvador), Castelão (Fortaleza) e a Corinthians, mais conhecida como Itaquerão, em São Paulo.

Mas o que as diferencia de um Maracanã, um Mineirão ou um Beira-Rio, que continuam sendo apresentados como estádios? E que ponto de contato haveria entre elas e as primeiras arenas, surgidas em Roma, onde feras e gladiadores lutavam?

Para a Odebrecht Properties, que participa da administração do Maracanã e das Parcerias Público Privadas que viabilizaram as arenas Pernambuco e Fonte Nova, a questão envolve marketing e tradição.

Em nota, a empresa responde: "O termo arena guarda relação com o conceito de espaço multiuso. Ou seja, pela concepção atual, é possível realizar uma série de eventos não relacionados diretamente ao futebol, como exposições, shows e encontros corporativos."

"O Maracanã, que foi reformulado para se adequar aos critérios de conforto, acessibilidade, segurança e sustentabilidade dos modernos estádios mundiais, manteve sua fachada histórica, suas rampas monumentais, sua tradição como estádio e, mais do que isso, sua grande vocação para o futebol. O nome estádio permanece, pois é parte da história", completa.

José Miguel Wisnik, músico, professor de literatura brasileira da USP e ensaísta, oferece outra visão: "Os estádios de futebol eram caldeirões sociais onde fervia a sociedade inteira. As arenas e estádios da Copa são teatros voltados para o consumo de espetáculos obedecendo às prioridades do poder aquisitivo."

"No limite, a arena é um estúdio com plateia onde se televisionam jogos de futebol, entre outros espetáculos", acrescenta Wisnik.

Segundo Amir Somoggi, consultor de gestão esportiva, o conceito de arena vem importado dos Estados Unidos. No basquete, no futebol americano ou no hóquei, ele se repete, como se fosse uma franquia, desde os anos 80.

"Lá, as pessoas chegam quatro horas antes para se divertir. Muitas nem torcem. É como se o jogo fosse um detalhe a mais na programação. É um tipo de entretenimento encontrado nos shoppings, com praças de alimentação, lojas, serviços eficientes."

Somoggi, que realizou um estudo de viabilidade econômica para a Arena da Baixada, afirma que nenhum dos complexos esportivos de futebol brasileiro se equiparam ao nível de excelência dos americanos, por enquanto.

"O espaço físico existe. A dificuldade está em criar uma estrutura e geri-la."

Mesmo na Copa, segundo Somoggi, a qualidade dos serviços deixou a desejar. "Estrutura enxuta, preços altos, serviço médio. Houve muitos relatos de bebida e comida terminando antes de o jogo começar", diz. "O que tem de melhor é a ausência de violência somada a um grande controle", acrescenta.

Nos Estados Unidos, cerca de 20% do faturamento das arenas vêm da prestação de serviços e entretenimento, ou das locações para outros eventos como shows, convenções ou lutas de MMA --80% são da bilheteria dos jogos.

Dentro do conceito de marketing, um nome comercial também ajuda a viabilizar o negócio. A Allianz irá pagar R$ 15 milhões ao ano pelas próximas duas décadas para que o novo Parque Antarctica, da WTorre e do Palmeiras, chame-se Allianz Parque. A Itaipava paga R$ 10 milhões por ano para as arenas Fonte Nova e Pernambuco.

GLADIADORES

De acordo com Alexandre Piccolo, professor de latim da USP, na origem as palavras arena e estádio trazem uma oposição entre gregos e romanos. Historicamente, arena descreve o tipo de solo empregado em campo, vindo de "areia", que serviria para absorver o sangue dos embates envolvendo gladiadores e feras em Roma.

O "stadium", de origem grega e mais antigo, mas que depois também seria incorporado por Roma, inicialmente foi usado para denominar uma medida de comprimento, de aproximadamente 180 metros, utilizada nas disputas esportivas.

"Em Roma, enquanto a arena era um anfiteatro, onde havia lutas e espetáculos circenses, nos estádios havia corridas de cavalos e carros, mas também outros festivais", afirma Maria Isabel D'Agostino Fleming, professora do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP.

Quanto ao formato, segundo ela, historicamente a arena é circular, com o público todo à volta do espetáculo. Já o estádio tem as extremidades curvas e as laterais retas --onde ficava o público.

Nisso os estádios gregos e romanos se assemelham aos hipódromos atuais.


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