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Tostão

Descoberta do óbvio

Após a Copa, descobriram o óbvio, que os jogadores brasileiros erram muitos passes, há muito tempo

Dizem que a expressão "óbvio ululante", uma das milhares de Nelson Rodrigues, nasceu quando ele andava com um amigo pelo Rio de Janeiro. De repente, o amigo, que vivia na cidade há mais de 50 anos, olhou para o alto e levou um susto. Tinha descoberto o Pão de Açúcar.

No Brasileirão, descobriram outro óbvio ululante, o de que os jogadores erram passes demais. Isso acontece há muito tempo. Quase só se fala nisso. Todos os dias, surgem novas estatísticas sobre o assunto. A Copa e os 7 a 1 escancararam essa e outras deficiências. Quem sabe o futebol brasileiro começa a mudar?

Os jogadores não erram muitos passes somente porque não têm técnica. Erram também porque fazem as escolhas erradas. Por falta de lucidez, para se livrar da bola e pela pressa em se chegar ao gol, dão o passe para o jogador marcado. A bola vai e volta.

No meio de semana, vi a estreia de Kroos no Real Madrid. Ele, de uma área à outra, deu um show de passes certos, curtos, longos, para frente, para o lado, de todos os tipos. Ele, raramente, erra um passe. Melhor ainda, faz a escolha certa. Os passes são simples, claros. "Talento é a arte de tornar simples o que é complexo". O passe certo é também importante para a defesa, ao não dar a bola ao adversário.

Entre os grandes meio-campistas, armadores que marcam como volantes e avançam como meias, Kroos é hoje o melhor, o herdeiro de Xavi.

Nos últimos tempos, a grande evolução no futebol europeu foi a valorização do passe correto. Os times costumam atuar de dois toques. Cresceu o número de passes, e diminuiu o de dribles. Às vezes, o jogo fica monótono, previsível. Os europeus sabem da importância do drible, próximos à área, para chegar ao gol. Por isso, contratam muitos atacantes sul-americanos, mais imprevisíveis e dribladores que os europeus.

Xavi e a Espanha, especialmente o Barcelona, deram, nos últimos dez anos, uma grande contribuição ao futebol. A Alemanha joga de uma maneira parecida com a dos espanhóis. O mesmo ocorre com os grandes times ingleses. Evidentemente, cada país e cada equipe têm suas particularidades. Enquanto isso, predominam, no Brasil, há muito tempo, o passe errado, o drible fora de lugar, os chutões, os lances individuais e as jogadas pelo alto --nas bolas paradas, é importantíssimo o jogo aéreo.

O futebol brasileiro teve grandes meio-campistas. Assim como Kroos, Pirlo, Xavi e outros, Gerson raramente driblava. Não precisava. Tocava e recebia. Seus passes longos eram precisos. Já Didi e Ronaldinho gostam do passe de curva, bonito e eficiente. A bola contornava o corpo do adversário para cair nos pés do companheiro. É um recurso técnico. Não é apenas estético.

Assim como o gol é o objetivo final, o drible é o representação da habilidade, da astúcia e da improvisação, o passe simboliza a técnica e o jogo coletivo.


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