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Entrevista James Montague, 35

No esporte, palestinos conseguem exercer pressão sobre Israel

Jornalista americano fala sobre a importância do futebol para a palestina a partir da viagem de sete anos que fez por países do oriente médio

Apelidado de "Indiana Jones" do jornalismo esportivo, James Montague, 35, conhece bem o futebol nas zonas de tensão. Para escrever seu livro "When Friday Comes", publicado em edição expandida em 2013, o jornalista britânico que escreve para o jornal norte-americano "The New York Times" viajou por sete anos pelos países do Oriente Médio, buscando conhecer de perto a importância do futebol para as pessoas da região.

Para seu novo livro, "Thirty-One Nil", lançado há poucos meses, ele acompanhou seleções de pouca expressão que buscavam vagas na Copa de 2014, como Tadjiquistão e Samoa Americana (cuja derrota por 31 a 0 para a Austrália serve de inspiração para o título do livro).

Em entrevista à Folha, Montague comenta o lugar do futebol no conflito entre Israel e Palestina, as dificuldades vividas pelos atletas da região e sua experiência no Brasil nos protestos de 2013.

Folha - Para escrever seu livro "When Friday Comes", você viajou por 7 anos pelo Oriente Médio conhecendo o futebol local, passando por Israel e Palestina. O que você viu lá?

James Montague - Os dois lugares me marcaram de maneiras diferentes. De certa forma, a viagem para Israel em 2006 foi a primeira vez em que estive em uma zona de guerra. Você aprende rapidamente que Israel é um lugar bem mais nuançado do que as pessoas pensam. Há muitas divisões sociais: israelenses judeus e árabes, judeus mizharim e asquenazes, ortodoxos e seculares. E o futebol é um dos poucos lugares em que essa complexidade aparece. O time Beitar Jerusalém nunca sairá da minha memória. Ele nunca teve um jogador árabe, é o clube mais racista que já vi.

E há também o Bnei Sakhnin, um time misto de uma cidade árabe. Quando esses times se enfrentavam, uau...

Gaza foi horripilante. Conversando, você percebe que toda família já teve algum membro da família assassinado, mutilado ou preso. Você sentia que não havia chances de paz com os israelenses, e agora ela parece ainda mais longe.

Eu vi uma partida de futebol em Gaza ao lado de Ismail Haniyeh, um dos homens-fortes do Hamas. Ainda bem que não havia drones cinco anos atrás, senão talvez eu não estivesse vivo para contar a história. Pouco tempo depois, um ataque aéreo israelense destruiu o estádio, por conta de alegações de que o Hamas estava lançando foguetes dali --o que a facção negava.

Como as tensões políticas da região afetam o futebol palestino?

O principal problema são as restrições de circulação aos jogadores. A Palestina virou membro da Fifa em 1998, mas não pode jogar na Cisjordânia. E era pior para os jogadores oriundos de Gaza, os melhores da Palestina.

A Fifa tem pressionado fortemente Israel quanto a restrições de movimentação impostas aos atletas palestinos e a seleção palestina tem sido um sucesso.

E como o futebol israelense é afetado?

Em tempos de conflito, partidas são canceladas. Em Israel, os jogadores que descendem de árabes são os responsáveis por apontar as mudanças sociais. Lá, 20% da população israelense têm descendência palestina. Eles são discriminados, mas dentro do campo de futebol são tratados com igualdade.

O que o futebol pode oferecer nesse contexto tão dramático?

É difícil dizer o que o futebol pode curar. Não acredito que tenha força para resolver tanta coisa. Mas, para os palestinos, o time nacional e o campeonato da Cisjordânia se tornaram politicamente importantes. A aceitação da Palestina como membro da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional significa o reconhecimento de igualdade em esferas internacionais.

Para se entender a importância do futebol para eles, basta dizer que Jibril Rajoub, uma das figuras mais importantes do Fatah, comanda a Federação Palestina de Futebol. Na Fifa e no Comitê Olímpico, os palestinos conseguem exercer pressão sobre Israel como em nenhuma outra instância.

Para seu último livro, "Thirty-One Nil", você veio para o Brasil em 2013, durante os protestos, e em 2014, durante a Copa. O que poderia contar dessas suas experiências?

Vi muita violência durante os protestos. Havia muita raiva e ressentimento direcionado ao comportamento da elite. É evidente que os padrões de vida brasileiros melhoraram muito na última década, mas isso traz problemas para os próprios corruptos. E ainda assim, nada aconteceu durante a Copa. Falei com pessoas que diziam que a raiva continuava, mas que a festa estava paga. Então, por que não aproveitá-la? Estou interessado na próxima etapa. Ainda há muita desigualdade, divisões raciais e corrupção. O que o Brasil fará em seguida?


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