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Opinião

Autor do hino do Grêmio, o negro Lupicínio resistia às gozações

O compositor gaúcho fez dois hinos para o grêmio, sendo o atual,composto em 1953, o do "Até a pé nos iremos/ Para o que der e vier..."

LUIZ FERNANDO VIANNA COLUNISTA DA FOLHA

"Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei!", poderia cantar Lupicínio Rodrigues aos jovens que chamaram Aranha de macaco e produziram cenas de racismo explícito no jogo contra o Santos --logo o Santos de Pelé.

Em 6 de abril de 1963, na coluna "Roteiro de um Boêmio", no jornal "Última Hora", o compositor gaúcho publicou o artigo "Porque sou gremista". Respondia aos que não entendiam um negro de origem humilde torcer pelo clube da elite de Porto Alegre.

A história que ele escreve lhe era contada por seu pai e remetia a 1907, quando "uma turma de mulatinhos" decidiu criar um time de futebol, o Rio-Grandense.

Foi o Internacional quem votou contra o ingresso dos "mulatinhos" na liga de clubes. Em represália, eles decidiram torcer pelo Grêmio. E criaram a uma dissidência, mais tarde chamada de Liga dos Canela Preta.

A demora do tricolor em aceitar jogadores negros teria sido motivada, diz Lupicínio, "porque em seus estatutos constava uma cláusula que dizia que ele perderia seu campo, doado por uns alemães, caso aceitasse pessoas de cor em seus quadros."

O compositor foi gremista até morrer, em 1974, à beira dos 60 anos (o próximo dia 16 marca seu centenário). Fez dois hinos para o clube, sendo o atual, de 1953, o do "Até a pé nos iremos/ Para o que der e vier/ Mas o certo é que nós estaremos/ Com o Grêmio onde o Grêmio estiver."

Esta marselhesa foi composta por um negro que, justificando a expressão "nervos de aço" com que intitulou seu samba-canção mais conhecido, ficava firme em seus bares e restaurantes (foi proprietário de alguns) aguentando gozações de colorados nas derrotas no Grenal. E cheio de felicidade quando a vitória era tricolor.

Em nome de Tesourinha (ex-Inter) e de Anderson (autor do gol da "Batalha dos Aflitos", contra o Náutico), passando por Everaldo (campeão do mundo em 1970), Alcindo, Paulo Isidoro, Jardel, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros, Lupicínio não precisaria desejar "Vingança", outro grande sucesso, aos pobres moços racistas, mas poderia cantar: "Nunca/ Nem que o mundo caia sobre mim/ Nem se Deus mandar/ Nem mesmo assim/ As pazes contigo eu farei."


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