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Entrevista - Kei Kamara

Vou enfrentar o ebola e me sacrificar pelo futebol de Serra Leoa

Capitão da seleção do país africano acredita que possa ajudar seus conterrâneos, sujeitos à epidemia, e fala da preocupação com familiares

RAFAEL REIS DE SÃO PAULO

Capitão de Serra Leoa, o atacante Kei Kamara, 30, ex-Middlesbrough (ING), e mais 19 companheiros aceitaram a convocação para lutar pelo futebol do país, um dos epicentros da epidemia de ebola --são mais de 3.700 casos confirmados e mais de 1.800 mortes no oeste da África.

Os jogadores, todos radicados na Europa e nos Estados Unidos, viajaram ao continente africano para tentar colocar sua seleção, a 50ª colocada no ranking da Fifa (melhor posição da história) na Copa Africana de Nações pela primeira vez em 18 anos.

O time estreia neste sábado (6) na fase final das eliminatórias contra a Costa do Marfim, em Abibdjan. Uma das exigências foi que ninguém da delegação visitante tivesse sequer pisado em Serra Leoa nos últimos 21 dias.

A segunda partida, na quarta (10), será a primeira "em casa" de Serra Leoa. Mas o jogo contra a República Democrática do Congo será na... República Democrática do Congo, única nação que cedeu um estádio de seu país aos leonenses.

"É como se estivéssemos todos impuros e doentes. Mas entendo. Cada um tem de proteger seu país", diz Kamara.

Folha - Será que a população do seu país pensa em futebol em uma hora dessas?
Kei Kamara - É óbvio que o futebol não é mais importante que o ebola, nossas partidas estão longe de ser a maior preocupação de Serra Leoa. Não deve ser nem a maior preocupação dos jogadores. Não podemos pensar só em futebol. Vivemos na Europa ou nos Estados Unidos. Estamos longe de casa, mas somos exemplos para quem está em Serra Leoa. Estamos tentando colocar o país no mapa também por coisas boas. Queremos ganhar nossos jogos para dar esperança para nossos irmãos.

Que outro tipo de contribuição vocês, jogadores, podem dar aos conterrâneos?
Quando vamos a campo, unimos as pessoas. Não há mais conflitos nem medo. Nós podemos ser heróis nacionais, mas não é só isso. Somos de um país muito pobre, mas estamos em uma situação melhor. Devemos doar dinheiro para ajudar no combate do vírus. Vou aproveitar a viagem para conversar com o pessoal de Serra Leoa e ver no que posso ajudar.

Por causa da situação do país, Serra Leoa não deveria abandonar a Copa Africana?
Investimos muito no futebol nos últimos anos para melhorar a imagem internacional do nosso país, que ainda é muito marcada pela guerra civil. É o caminho que leva esperança às crianças. Se conseguimos a classificação para a Copa Africana, não seremos mais apenas o país da guerra e o país do ebola.

Chegou a pensar em recusar a convocação para evitar um possível contágio? Você encontrará dirigentes que moram em Serra Leoa...
De jeito nenhum. Nunca. Vou enfrentar o ebola e me sacrificar pelo país. Vou encontrar dirigentes da federação e suas famílias. Vou me aproximar deles, falar "olá" para eles, tocar neles. Vamos tomar cuidado, mas sabemos que não estão infectados. Não dá para esconder que se está com ebola, por causa da febre alta.

Você tem família em Serra Leoa? Está preocupado com a situação deles?
A maior parte da minha família mora lá e estou muito preocupado. Converso com eles todos os dias. E é sempre aquela tensão: nunca sei quais as notícias que irão me contar. Falo sempre para correrem para o hospital se sentirem qualquer coisa, por menor que seja o sintoma. É só me ligar que eu mando o dinheiro que precisarem. Nosso país é muito pequeno, o risco é grande. O problema é que as pessoas pensavam que o ebola não era sério, que era uma mentira para tirar dinheiro do povo.


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