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Após Aranha, outro goleiro afirma ser alvo de racismo
POLÊMICA
Igor, do Operário-MT, registra queixa policial contra torcedor
Igor, 28, evitou atender qualquer telefonema da família nesta segunda (8). Goleiro do Operário-MT, ele não queria, especialmente, falar com a mãe, Maria Esperança, que mora em Salvador.
"Eu sei o que ela dirá. Vai falar para eu largar o futebol porque não preciso passar por isso", confessou à Folha.
Dez dias após Aranha ter ter sido vítima de racismo no futebol nacional, Igor denunciou ter sofrido a mesma discriminação.
Revoltado por crer que a arbitragem não tomou providências contra os torcedores que o ofendiam, ainda foi expulso de campo aos 37 min do 1º tempo.
Aconteceu neste domingo (7), em partida de sua equipe contra o Tombense-MG, pelo Brasileiro da Série D.
"Já no aquecimento começaram a tirar sarro de mim, chamando de 'Aranha' e 'negão'. Depois foi ficando mais pesado", disse ele, em entrevista por telefone à Folha.
Quando ouviu a palavra "macaco" pela terceira vez, chamou o árbitro Antonio de Carvalho Schneider.
"Ele não tomou nenhuma providência. Os gritos continuaram. Fiquei revoltado, cego de raiva. Peguei a bola e a chutei para a arquibancada. Ele me expulsou. Se tivesse chamado o policiamento da primeira vez, nada disso teria acontecido", completa.
Igor saiu do estádio direto para a delegacia. Um torcedor foi identificado e preso. Horas depois, foi liberado.
Na súmula, Schneider citou que o goleiro acusava torcedores de o terem ofendido por ser negro.
Com isso, a procuradoria geral do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) deve denunciar o Tombense. A equipe mineira pode até ser excluída do torneio.
Foi o que aconteceu com o Grêmio na Copa do Brasil. No último dia 28, Aranha denunciou ter sido vítima de xingamentos raciais. Patrícia Moreira, 23, foi filmada chamando o santista de "macaco".
O clube gaúcho recorreu da decisão.
SEM PUNIÇÃO
"O que aconteceu com a menina que ofendeu o Aranha? Ela vai ser presa? Não vai. O mesmo vai acontecer com o torcedor que me xingou. Isso revolta", lamenta.
Schneider é árbitro da FERJ (Federação Estadual do Rio de Janeiro). A entidade avisou que ele não vai se pronunciar sobre o assunto.
Ninguém atendeu aos telefones na sede do Tombensea até a noite desta segunda (8).
Por ter sido expulso, Igor será julgado e pode também ser suspenso.
"Nunca fui expulso na carreira. Nunca pisei no STJD. Eu fui colocado em uma situação humilhante e ainda vou ser julgado?", questiona.
A Polícia Militar mineira manifestou solidariedade ao jogador, mas lembrou não haver provas materiais.
"Tenho duas testemunhas do meu time. Vou levar isso até o fim. O rapaz que foi preso também é moreno. Quase da minha cor", finaliza.