Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Esporte

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista Tite

Ser técnico é atividade um tanto desumana

Treinador afirma que culpa pelo 7 a 1 caiu 'excessivamente no colo' de felipão e conta que gostaria de voltar ao corinthians

ALEX SABINO DE SÃO PAULO BERNARDO ITRI DO PAINEL FC

Técnico mais vitorioso do futebol brasileiro nos últimos cinco anos, o gaúcho Tite, 53, admite que esteja em posição privilegiada.

Embora tenha sido preterido do comando da seleção brasileira, função que gostaria de ocupar, o técnico está sem clube há nove meses por opção. Entende que possa escolher um time que tenha uma estrutura adequada para desenvolver seu trabalho.

Na entrevista à Folha, realizada na terça (16), Tite fala da vontade de retornar ao Corinthians, clube pelo qual conquistou Mundial, Libertadores, Brasileiro, Paulista e Recopa Sul-Americana.

Sua afirmação de que gostaria de voltar ao clube ganha um peso adicional neste momento, quando Mano Menezes é questionado pelo desempenho do time no Campeonato Brasileiro.

Tite propõe ainda uma regulamentação para reduzir as trocas de técnicos durante os torneios e diz ter se surpreendido com a escolha de Dunga para assumir a função de técnico da seleção.

Folha - Você já falou sobre a frustração de não ter sido chamado para a seleção. Ficou parado esses seis meses antes da Copa para a seleção?

Tite - O termo que caracteriza foi preparação. Eu fiz uma preparação consciente de que eu, como outros profissionais, em razão dos últimos trabalhos, poderia [ser escolhido]. Eu me preparei para que tivesse esse convite.

Foi surpreendido pela escolha do Dunga?

Sim. Entendia que eu, o Muricy, o Abel, o Marcelo [Oliveira] e o Cuca éramos os postulantes.

É raro um técnico ficar afastado por seis meses. Sente-se numa posição privilegiada, de escolher um time?

Privilegiado não sei se é o termo, mas que permita gerenciar um pouco a escolha e a carreira, sim. Escolher não o clube, mas o momento. Encontrar um clube com a possibilidade de fazer um trabalho a médio prazo.

Mas é anormal.

É atípico. Construí essa possibilidade. Mas, em outros momentos, eu não tinha a estabilidade financeira que hoje me permite ter esse comportamento. Em outros momentos, eu arrisquei. No Corinthians, Palmeiras, São Caetano, Atlético-MG e Inter. Agora, tenho um pouco mais de calma para pegar o clube em outro estágio.

Os técnicos se submetem muito a esse modelo de trocar de clube sempre?

É a regra. É preciso ter uma legislação melhor. O Falcão e o Vagner Mancini [integrantes da Federação Brasileira de Técnicos de Futebol] defendem o seguinte: "o técnico que iniciar o campeonato em uma equipe não pode trabalhar em outra se for demitido". O que isso gera? Uma seleção melhor por parte dos dirigentes na escolha do técnico. E uma responsabilidade maior do técnico para não pedir demissão e ir embora num momento difícil.

Isso vai gerar uma necessidade de comprometimento maior das duas partes. Eu trocaria parte do meu salário por uma estabilidade maior.

O 7 a 1 trouxe algum tipo de contribuição ao futebol?

O lado de benefício da derrota é notório. Todos estão se mobilizando. Para mim, caiu no colo excessivamente do técnico. Ser técnico é uma atividade um tanto desumana.

O que acha sobre técnicos estrangeiros trabalharem no futebol nacional?

Não seleciono por nacionalidade, mas por competência.

Para a seleção é diferente?

Seleção é o clímax de uma carreira profissional. É normal que tenhamos o sentimento de ambicionar. Eu sou campeão mundial, o Abel, o Paulo Autuori. É normal que a gente queira que olhem pra nós antes. Mas se vierem técnicos top... Mas tem que ser top, não pode ser emergente.

Guardiola?

Sim. Se fosse Ancellotti [técnico do Real Madrid], Mourinho [do Chelsea], sim.

Por que jogadores conseguem se unir, por meio do Bom Senso, e os técnicos ainda não?

Concordo que o Bom Senso fomente esse tipo de relação. Os técnicos têm pequenos grupos de amigos. Não têm união na classe. A força que está tendo o Bom Senso está em Paulo André, Alex, Dida, gente esclarecida com "know-how". Eu sou porta-voz dessa proposta do Mancini e do Falcão de procurar o que é melhor para o futebol brasileiro, assim como sou defensor de que haja a profissionalização dos árbitros. É desumano que o árbitro tenha que pagar sua própria nutricionista. Quero ser um porta-voz dessas melhorias.

No fim de 2013, você foi dispensado pelo Corinthians. Tem a mesma vontade de retornar, como aconteceu depois de sua primeira passagem, entre 2004 e 2005?

Fechou mais um ciclo, mas entendo que pode se abrir outro lá na frente. Se eu gostaria? Gostaria. Mas gostaria que fosse limpo. Não quero que seja "porque ele ganhou aquilo, tem de voltar". Quero voltar porque é o momento. Não quero voltar como resposta ao momento. Mas, sim, eu gostaria [de voltar].

Quando pretende voltar a trabalhar?

A data que coloco é o início de outubro. Primeiro porque estará definida a ponta de cima do Brasileiro e a ponta de baixo. Já se estará trabalhando com projetos para o ano que vem. Segundo, as eleições nos clubes [no final do ano, começam as eleições em grandes clubes].


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página