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"Estações" mostra novos rumos do CPT

Novo espetáculo do grupo de Antunes Filho extrapola os limites do teatro e flerta com cinema e artes plásticas

Assim como no projeto anterior, "Prêt-à-Porter", diretor volta a investir em exercício teatral com cenas curtas

GABRIELA MELLÃO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O "Prêt-à-Porter" sai de cena. O término deste projeto, que nos últimos 13 anos sintetizou o caminho trilhado pelo CPT (Centro de Pesquisa Teatral), principal instituto de estudos da arte do ator do Brasil, conduzido pelo diretor Antunes Filho, é um marco na história das artes cênicas do país.

A lacuna é preenchida por "Estações", espetáculo cuja estreia ocorreu ontem, realizado por jovens atores sob orientação do encenador e seu braço direito, Emerson Danesi, coordenador do CPT.

A mudança espelha a inquietude de Antunes Filho, acentuada desde que ele constatou uma era de instabilidade na cena mundial. Segundo diz, o teatro está em crise e precisa se reinventar.

Como consequência, seus ensinamentos se despem de regras, de certezas, e sua arte deixa de apresentar respostas em cena para levantar perguntas. "Se sempre existiu reflexão no CPT, imagine o que acontece conosco em tempos de crise", sugere ele.

"O momento é de novos questionamentos", constata Danesi. Segundo conta, Antunes Filho nunca esteve tão próximo do processo de criação dos jovens aprendizes como em "Estações".

O encenador selecionou seis cenas entre cerca de 50 criadas por 20 atores no ano passado. "Não importa tanto o resultado final do trabalho, mas o fato de ser gente nova tentando abandonar velhos hábitos, experimentando novos caminhos", argumenta Antunes Filho.

Distintas tematicamente, as cenas se amalgamam sobretudo pela linguagem que extrapola os limites da arte teatral convencional para flertar com cinema e artes plásticas, entre outras expressões artísticas.

Como o "Prêt-à-Porter", "Estações" é um exercício teatral formado por cenas curtas, inteiramente compostas por atores criadores -aqueles que não se limitam a apenas interpretar papéis, se transformando também em dramaturgos, produtores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores e diretores.

As similaridades entre as duas criações acabam aí. "Estações" se opõe ao antigo programa do CPT por não se prestar a contar uma história tradicional, com enredo linear e realista. Ao contrário do que ocorria no "Prêt-à-Porter", suas narrativas são apresentadas de forma fragmentada, rejeitam o falso naturalismo e buscam mobilizar o espectador não tanto pelas histórias, mas sobretudo pelas sensações que despertam.

Liberdade criativa surge como conceito chave para entender os novos caminhos de Antunes Filho, repassados para integrantes do CPT.

Segundo Jefferson Nogueira, criador de duas cenas de "Estações", o espetáculo é resultado de um processo criativo bastante solto. "Eu me senti muito à vontade criativamente para me expressar como artista", diz ele.

"Balaio", peça oriunda de estudantes do CPT, apresentada no ano passado, marcou o início dos novos rumos do Centro de Pesquisa de Antunes Filho. Depois dela, o encenador produziu um último "Prêt-à-Porter", que já começava a rever seus conceitos. O término do projeto aconteceu de forma natural.

"Estamos instalados num caos absoluto, numa fase de passagem. Estou batalhando para ver como o teatro pode encontrar novos horizontes", revela Antunes.

Segundo ele, "a regra agora é não ter regra, ser desregrado, ter olhos para localizar as brechas que se abrem e conseguir se infiltrar nelas". Poliana Pieratti, atriz de "Estações", também arrisca uma definição: "Tentamos sair do teatro para reencontrar o teatro", sintetiza.


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