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Réplica

Escrita respeitosa de crítico esconde intenção de enganar leitor

HUGO POSSOLO ESPECIAL PARA A FOLHA

O crítico Luiz Fernando Ramos fez grande esforço em desaprovar o espetáculo "Parlapatões Revistam Angeli" em nossa estreia no Festival de Curitiba ("Ritmo de tiras de jornal faz de peça uma coleção de piadas", 30.mar., E9).

Com teatro cheio, ouvimos risadas constantes, aplausos aos números musicais e muitos aplausos em cena aberta. Parece que o crítico não esteve no mesmo lugar.

Distorcendo o que viu, Ramos usa expressões como "em alguns momentos" ou "pelo esforço máximo de desempenho" para trair fatos com dissimulação intelectual. Sua escrita aparentemente respeitosa esconde a ardilosa intenção de enganar o leitor.

Sua análise tenta jogar com as intenções da encenação sugerindo que não foram alcançadas. Seu julgamento precoce cita o personagem Bibelô, que nunca esteve em cena. Um crítico deveria ser mais criterioso.

Ramos, desde que está nesta Folha, nunca escreveu sobre nossas peças nem acompanhou a trajetória dos Parlapatões. Raramente escreve sobre comédia ou humor. Talvez não goste do riso no teatro.

Ainda assim, quer afirmar quais deveriam ser os rumos de um grupo que está há 22 anos na estrada. Isso pode alimentar sua pequena autoridade de crítico, mas não contribui com o entendimento do leitor.

A função da crítica de arte há muito tempo foi desvirtuada. Hoje se resume a ser um guia de consumo. Dificilmente contextualiza a obra analisada. O resultado é um amontoado de subjetividades que geram a classificação em estrelinhas.

Aqui está o problema. Um jornal como a Folha, que defende a pluralidade, tem, no caso do teatro, uma única pessoa que carimba as obras com suas estrelinhas. Em cinema, a classificação, pelo menos, vem da média da avaliação de vários críticos. No caderno "Poder", a opinião de um colunista não representa a opinião de todo o jornal. E o leitor, respeitado, ganha ao ouvir diversas opiniões.

As tais estrelinhas descontextualizam e corrompem o pensamento do crítico. Prejudicam, sobretudo, o leitor que, ao consultar o "Guia Folha", encontra ali uma taxação dissociada da avaliação que a gerou.

Após três meses de trabalho intenso, ao qual o público aplaudiu de pé por longo tempo, um "deus ex-machina" desce de seu limbo e determina o que é ótimo, bom, regular ou péssimo.

Sou um artista ou um menino na escola à espera da aprovação do gosto de um professor ditatorial?

É triste que nós, artistas e público, estejamos nos transformando em parte de uma engrenagem que não entende a arte como interferência na vida da sociedade e que quer diminuí-la ao mero consumismo imediato.

HUGO POSSOLO, 50, é palhaço, dramaturgo e diretor do grupo Parlapatões.


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