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Surto psicótico guia ator em montagem da peça 'O Mal Dito'

À procura de interpretação visceral, Fransérgio Araújo usou experiência pessoal em espetáculo que estreia hoje

Oriundo do Teatro Oficina, ele também dirige o trabalho, inspirado no livro "Os Cantos de Maldoror"

MARCIO AQUILES DE SÃO PAULO

Transformar um pujante universo imagético e simbólico em monólogo teatral é a tarefa que o ator Fransérgio Araújo impôs a si ao decidir encenar "O Mal Dito", peça baseada em "Os Cantos de Maldoror", de Lautréamont, pseudônimo do escritor Isidore Ducasse (1846-1870).

Servindo-se de sua experiência pessoal, principalmente de um período em que enfrentou surtos psicóticos, Fransérgio criou uma montagem que consegue exprimir toda a visceralidade do texto.

"Fui qualificado como esquizofrênico e bipolar pelos médicos. Passei por depressão e questionamentos existenciais que me levaram ao desejo de montar esta peça", afirma o ator e diretor.

Oriundo do Teatro Oficina, onde integrou o elenco por mais de dez anos, Fransérgio fora presenteado por José Celso Martinez Corrêa com uma edição da obra. A releitura dos cantos lhe causaram forte impacto, amplificado pelos colóquios que tivera com seu pai a respeito do livro.

"O autor mostra a transfiguração do homem no selvagem e os cataclismos da natureza. Ele vivifica mitos e desafia a repressão; por isso, escolhi encenar no Espaço dos Satyros, teatro bastante propício a experimentações."

PROCESSO CRIATIVO

A gestualidade do ator é fundamentada em seus momentos de crise psicótica, aspecto que condiz com a primitividade dos versos ducassianos. "Não houve pesquisa corporal, enceno as expressões que vivenciei", conta.

O cenário materializa um célebre trecho dos cantos ("o encontro fortuito de uma máquina de costura e um guarda-chuva sobre uma mesa de dissecação"), representando de modo minimalista a rica iconografia exposta no texto.

O potencial de representação pictórica dos cantos é tamanho que levou artistas surrealistas como Salvador Dalí e René Magritte a ilustrarem edições da obra.

A montagem de Fransérgio, no entanto, é construída por meio do poder de sua dicção, que fica com o encargo de transmitir verbalmente a livre associação de imagens narrada no livro.

"Eu sigo os preceitos do meu manifesto do teatro selvagem, na busca do desregramento dos sentidos, do enlouquecimento religioso, usando a metamorfose como força motriz. Usei também as técnicas de respiração do [Antonin] Artaud, pois há longos períodos de prosopopeia", explica.


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