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Crítica - 18º Festival É Tudo Verdade

Longa mostra periferia sem retoques

"Mataram Meu Irmão", de Cristiano Burlan, é despretensioso e não busca explicações ligeiras

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Rafael Burlan faz parte da estatística da violência na cidade de São Paulo. Envolvido em furtos e outros delitos, fumava crack. Foi assassinado com sete tiros numa noite em 2001. Seu corpo foi encontrado numa vala cheia de lixo no Capão Redondo. Tinha 22 anos. Deixou dois filhos.

Seu irmão Cristiano soube da morte enquanto jantava com a namorada. Marcado pela tragédia, ficou atormentado com a ideia de que poderia ter salvo Rafael se o tivesse convidado para jantar e ir ao cinema naquela noite. Agora, expõe o caso nas telas em "Mataram Meu Irmão", apresentado no É Tudo Verdade.

O cineasta Cristiano Burlan não está preocupado em fazer uma ode ao irmão nem em esclarecer o crime ou clamar por justiça. Sem retoques, ele conta um pouco da história de Rafael pelas memórias de parentes e amigos. Principalmente, traça um retrato das pessoas da periferia paulistana.

Sua câmera entra nos apartamentos de conjuntos habitacionais, nas lajes e vielas da favela. Lá encontra parentes que oferecem café e falam de Rafael enquanto cuidam de suas lides: lavar a roupa, cuidar das crianças, seguir a vida. Quase como num filme caseiro, a lente dança. Na beira de uma praia, o diretor encontra um parente (nenhum dos entrevistados é identificado claramente) que arrisca interpretações sociológicas e psicológicas para o drama que tomou conta da família.

Nessa conversa de bar, a periferia -agora vista do litoral- é pintada como "frustrante e insidiosa". Já Rafael é descrito como um malandro à moda antiga que viveu em tempos de crack e morreu de forma incompreensível.

Com seu relato, de certa forma o cineasta extrai o irmão das estatísticas, construindo um retrato multifacetado da sua trajetória. Despretensioso, Burlan não busca explicações ligeiras. Só escancara a vida como ela é.


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