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Livro retrata rotina brutal das domésticas

Escritor português Valter Hugo Mãe lança romance e vem a São Paulo para debate

MARCO RODRIGO ALMEIDA DE SÃO PAULO

O romance "o apocalipse dos trabalhadores" (grafa-se assim mesmo, com letras minúsculas), do português Valter Hugo Mãe, chega ao Brasil cinco anos depois de sua publicação original, mas pode-se dizer que o atraso foi oportuno tanto ao livro quanto ao leitor brasileiro.

O livro sobre duas domésticas portuguesas é lançado por aqui no momento em que o tema está em voga no Brasil.

No começo deste mês entrou em vigor a lei que amplia os direitos dos empregados domésticos, garantindo a eles, por exemplo, pagamento de hora extra e jornada de trabalho de 44 horas semanais.

Valter Hugo Mãe, que será um dos destaques do festival Pauliceia Literária (leia ao lado), não sabia da alteração na Constituição brasileira e achou curiosa a coincidência entre os temas.

Não escapou ao autor português, porém, que a situação retratada pelo romance guarda nítidas semelhanças com a realidade daqui. A trama retrata a vida opressiva e quase sem esperança de Maria da Graça e Quitéria, duas diaristas -ou "mulheres-a-dias", como se diz em Portugal.

"A expressão é muito elucidativa", diz o autor. "É como se elas fossem mulheres em alguns dias e em outros não fossem nem cidadãs, de tal forma brutais são suas rotinas."

Fora a crise financeira e no casamento, Maria também é abusada sexualmente pelo patrão, com quem mantém uma relação ambígua.

"O universo das domésticas é bastante específico, e isso podemos notar com clareza no Brasil. Elas participam da intimidade dos patrões, mas sempre há uma barreira social entre eles. É uma interação muito complexa", argumenta.

Apesar do tom sombrio, o romance também tem muitos momentos de humor e acaba sendo, ao fim das contas, uma ode à força das mulheres.

O livro é o terceiro volume da tetralogia que o autor define como "ilustração crítica do Portugal do meu tempo". Os demais títulos, todos também escritos em minúsculas, para criar uma "humildade gráfica", já foram lançados aqui: "o nosso reino", "o remorso de baltazar serapião" e "a máquina de fazer espanhóis".

Depois da Pauliceia Literária, o autor pretende voltar ao Brasil para participar da Fliporto, festival em Olinda (PE), em novembro. Tornou-se um "queridinho" do público depois que foi aplaudido de pé na Flip de 2011, ao comentar o fascínio que o Brasil exerceu em sua formação.

"Fui muito afetado pela telenovela brasileira", diz. "Tony Ramos e Reginaldo Faria foram heróis da minha infância."


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