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Crítica 18º Festival É Tudo Verdade

'Serra Pelada' desperdiça bom material

Sem foco, documentário tem imagens marcantes e diversos pontos de vista sobre garimpo no PA

INÁCIO ARAUJO CRÍTICO DA FOLHA

Não é aplicação que falta ao documentário "Serra Pelada" (2013), que integra a mostra competitiva do festival É Tudo Verdade. Temos ali imagens do famoso garimpo em vários estágios e testemunhos de garimpeiros que participaram do seu momento legendário e da decadência.

Há o depoimento do oficial de exército Sebastião Curió (depois prefeito de Curionópolis), mas também o do líder sindical local. Não falta Ricardo Kotscho, jornalista que escreveu um livro a respeito, nem Eliezer Batista, então presidente da estatal Vale.

Lá estão várias épocas e visões temáticas: a do governo militar e a dos civis, a de Curió instaurando ordem no lugar e a morte dum garimpeiro pelo tiro errático dum soldado, a do garimpeiro enriquecido e a dos que continuam a sonhar com montanhas de ouro.
Algo, no entanto, faz com que o material se disperse ao longo do filme de Victor Lopes: assim como permite que diversos pontos de vista se acumulem e convivam, o filme não consegue fixar um ponto de vista e organizar uma narrativa que não pareça confusa aos olhos do leigo.

Vejamos o caso de Curió, que mais desenvolve sua versão dos fatos: a amizade com o então presidente Figueiredo, a necessidade de evitar o caos no garimpo, suas lutas em favor dos garimpeiros e, por fim, o surgimento de Curionópolis, cidade que deve o nome, diz ele, à insistência dos próprios garimpeiros.

No entanto, a versão é desmentida por um letreiro, que diz que ele foi destituído do cargo de prefeito por compra de votos... Isso, claro, sem falar das sombras que pesam sobre sua atuação no combate à guerrilha do Araguaia.

Outro caso: o de Ricardo Kotscho. No início, o repórter aparece num bar na rua Oscar Freire. Muito tempo depois é visto no aeroporto de Sabará, comentando mudanças entre aquela época e hoje. Por fim, surge num carro numa estrada, reencontrando um garimpeiro do passado. Personagens surgem e desaparecem sem que se saiba a razão.

E, no entanto, não faltam momentos interessantes, como o do ex-garimpeiro que ainda sonha encontrar toneladas de ouro no terreno de sua casa. O mesmo que, no passado, cheio de dinheiro, desprezado por uma atendente de companhia aérea, fretou um avião e se hospedou no Copacabana Palace: visitava o Rio pela primeira vez e não se arrepende do dinheiro gasto.

De terríveis imagens de morros caindo sobre garimpeiros a cenas da célebre ida de Rita Cadillac (Curió proibira mulheres no garimpo), do sonho do Eldorado à esperança dos militares de pagar a dívida externa com o garimpo, a "Serra Pelada" não falta documentação. Faltou não se perder em meio a tanta, tão rica e contraditória informação.

SERRA PELADA - A LENDA DA MONTANHA DE OURO
DIREÇÃO Victor Lopes
QUANDO hoje, 13h; Cine Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073; tel.: 0/xx/11/3285-3696)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO regular


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