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Crítica - Drama
"Juan e a Bailarina" se sai bem na busca de um cinema lúdico
CÁSSIO STARLING CARLOS CRÍTICO DA FOLHAA eterna inveja brasileira do vigor do cinema argentino foi superada com uma solução pragmática do diretor Raphael Aguinaga, que também assina o roteiro de "Juan e a Bailarina". Ele atravessou a fronteira para se beneficiar de condições mais produtivas e fez um filme argentino.
O longa mergulha no universo doce-amargo da velhice, sem se confundir com a melancolia de "Amor" nem com o romantismo estereotipado de "Elsa e Fred".
Mesmo que se passe quase o tempo todo no interior de um asilo, o filme não insiste em chamar a atenção para o abandono na terceira idade. Tampouco mascara os problemas de fato, como a fragilidade da saúde e a perda de interesse pelo futuro.
Há aqui um universo mental particular, desconectado das urgências da juventude, e uma atitude afetiva de cuidados mútuos, de inclusão e de pertencimento.
O filme se abre com a imagem da saída de um carro funerário e a chegada de uma nova "hóspede", que logo provoca admiração e despeito e desperta o desejo de Juan, um senhor misantropo que se recusa a sair do quarto.
A herança deixada pelo companheiro que morreu traz à tona uma mescla de mesquinharia, amores e rancores. Os sentimentos ajudam a individualizar os personagens, senti-los como ângulos de humanidade e não meras peças postas ali para fazer a dramaturgia funcionar.
A viagem da cuidadora e a chegada de seu filho, um garotão nem um pouco interessado nos problemas alheios, introduzem mais uma perspectiva de conflitos.
Mas é pela TV e pelo rádio que o filme ganha um apelo extra. Por eles, os personagens ficam sabendo da notícia da clonagem de Jesus.
Além da fé, o problema que a novidade traz repercute na existência dos personagens. Afinal, a clonagem implicaria a possibilidade de ter de volta todo mundo que já morreu. E também ocasionaria uma superpopulação, com resultados imprevisíveis.
A partir dessa hipótese surreal, "Juan e a Bailarina" brinca com a gravidade de seu tema, enxerga a humanidade pela ótica do absurdo e se sai muito bem na busca de um cinema lúdico, sem ambições extraordinárias.