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Crítica - Romance

Narrativa mostra falhas, mas comprova evolução de escritor

Mesmo com ideia desastrada, livro é o melhor da carreira de André de Leones

ALFREDO MONTE ESPECIAL PARA A FOLHA

Nas suas memórias, Simone de Beauvoir relata uma década de luta e de manuscritos postos de lado para chegar a seu primeiro romance digno de ser publicado.

Se esse fosse um parâmetro para os jovens escritores! Pois o que vemos (com as exceções de praxe) é o açodamento de publicar, de ter uma "carreira", antes de se ter minimamente algo a ser chamado de obra.

O caso de André de Leones é típico. Com pouco mais de 30 anos, lança seu quinto livro, "Terra de Casas Vazias". Segundo a premissa que norteia esta resenha, seria melhor que os anteriores permanecessem na gaveta.

Assistindo a entrevistas em que ele mostra empenho e seriedade, custa crer que desse compromisso todo com o ofício tenha saído uma ficção tão dispersa, que vai para lá e para cá sem se fixar em nada, na qual os personagens parecem todos iguais e nada é aprofundado.

"Hoje Está um Dia Morto" (2006) e "Como Desaparecer Completamente" (2010), seus dois primeiros romances, não passam de meros esboços, etapas ainda toscas de um caminho que vieram à luz por falta daquela atitude autocrítica beauvoiriana.

CIRANDA DE LUTOS

"Terra de Casas Vazias" é uma evolução. Em cinco partes de cuidadosa carpintaria narrativa, uma ciranda de lutos, de impossibilidades: o casal Teresa-Arthur perdeu o filho, a esposa de Aureliano, Camila, sofre degeneração muscular, Marcela teve um colapso mental.

Alguns entregam os pontos (a madrasta de Aureliano e Marcela se suicida), outros são mais teimosos, como a mãe, Isadora, grávida com mais de 50 anos.

Leones encontra finalmente o tom para o exercício romance-roda-de-personagens, uma gravidade que poderia fazer dele, caso aprofundada, um Cornélio Penna (1896 -1958) para o século 21, e que fugira das suas mãos na sua tentativa frustrada de fixar os "amores expressos" de vários caracteres, em "Como Desaparecer Completamente".

Há algumas cenas muito boas (na terceira parte, a melhor, uma conversa entre o Arthur-menino e a mãe).

E se há um quê do cansativo modismo dos enredos "seis graus de separação", as movimentações entre Silvânia, Brasília, Goiânia e São Paulo se justificam plenamente.

O calcanhar de aquiles é a desastrada solução de fazer a narrativa desembocar em Israel, sem maior contribuição à trama ou aos personagens, apenas porque atualmente até os romances têm de globalizar-se.

Mesmo com as ressalvas, pode-se dizer que agora sim André de Leones estreou na literatura.


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