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Obra de Guimarães se constrói a partir de 'pensamento nômade'

DE SÃO PAULO

No saguão de um hotel em Copenhague, Tamar Guimarães abriu o laptop e mostrou ao curador Adriano Pedrosa o filme "A Man Called Love".

Cinco anos atrás, esse foi o ponto de partida para a ascensão da artista no plano global, começando pelo país onde nasceu. Pedrosa incluiu Guimarães em sua polêmica edição do Panorama da Arte Brasileira de 2009, em que escalou só nomes estrangeiros que dialogassem com o Brasil em seus trabalhos.

Estar nessa encruzilhada de fronteiras, aliás, parece ser a maior força da obra da artista que nasceu em Belo Horizonte, estudou em Londres e se radicou na Dinamarca.

Ela diz fazer seus filmes com um "modo de pensar nômade" que vem de "situações fragmentadas e períodos imersos em lugares diversos".

Mas seu olhar "forasteiro" ou "de fora para dentro" sempre se volta para o Brasil. Seu filme que chamou a atenção de Pedrosa era sobre a figura de Chico Xavier, ao mesmo tempo em que traçava um painel histórico do país.

"Queria fazer uma leitura mística da esquerda e uma leitura social e política do espiritismo", diz Guimarães. "No fundo, Chico Xavier não é o tema central do filme, mas é um médium que canaliza reflexões sobre o Brasil."

Esse olhar sobre o espiritismo também está no centro da obra que a artista levará a Veneza em junho. Será um filme sobre "cidades espirituais" espalhadas pelo Brasil, uma nova dissecação dessa religião através de uma lente que pode ser, ao mesmo tempo, fantástica e política.

São duas vertentes que contaminam a obra de Guimarães. Se ela parte sempre de um pano de fundo real, um contexto firme para ancorar seu discurso, as divagações inspiradas por esse pano de fundo vão longe, quase ao ponto de transformar em fetiche o seu objeto de estudo.

Na obra que mostrou na Bienal de São Paulo há dois anos, Guimarães filmou um grupo de intelectuais conversando num animado coquetel na Casa das Canoas, projetada por Oscar Niemeyer.

Entre goles de champanhe, surgia nas falas dos convidados uma visão crítica do movimento moderno no Brasil.

"São diálogos muito bem construídos, exatos", diz Hans Ulrich Obrist, que se interessou pela obra da artista ao ver o filme da Casa das Canoas. "Ela cria conversas precisas com seus ambientes."

Tanto que Ulrich Obrist depois chamou a artista para criar o mesmo tipo de diálogo com a Casa de Vidro.

No filme gravado na casa de Lina Bo Bardi, agora em cartaz no Sesc Pompeia, um grupo passa um fim de semana no lugar, fuçando nos arquivos da arquiteta. "A relação entre palavra e imagem no meu trabalho é oblíqua", diz Guimarães. "São como duas vozes que, às vezes, se encontram e, às vezes, não."


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