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Obra de artista turco extrai melancolia da globalização

Hüseyin Alptekin reflete sobre natureza efêmera dos deslocamentos atuais

Nome que participou das bienais de Veneza, São Paulo e Istambul tem trabalhos expostos no Sesc Pompeia

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

No brilho dos neons e nos lençóis de hotéis, Hüseyin Alptekin encontrou uma espécie de síntese das cidades contemporâneas.

Toda a obra do artista turco, agora em mostra no Sesc Pompeia, reflete sobre a ideia de trânsito, deslocamentos entre pontos distintos do mundo e certa melancolia que surge desse movimento.

Logo na entrada da mostra, um grande painel, obra mostrada na Bienal de São Paulo em 1998, exibe fotografias que fez de letreiros de hotel com nomes de cidades.

No meio deles, um neon grita a palavra "capacity", evocando a capacidade ou o potencial desses lugares de mudar algo na vida ou na rota pré-traçada de alguém.

Morto em 2007, o artista, que começou como fotojornalista nos anos 1970, teve desvios de rota de sobra na vida para construir essa reflexão potente sobre os primórdios do mundo globalizado.

Nesse ponto, o fato de vir de Istambul, no encontro entre Ásia e Europa, e ter depois viajado o mundo, morando em Paris e Nova York, tornou inevitável sua obsessão pelo significado de um lugar.

"Ele era um colecionador obsessivo de objetos e imagens", diz Camila Rocha, viúva do artista. "A gente guardava xampus de hotéis e globos terrestres em várias línguas. Tinha até uma coleção de maços de cigarros."

Nas primeiras obras que fez, em colaboração com o artista norte-americano Michael Morris, Alptekin criou colagens de registros do dia a dia, como recibos, anotações ou recortes de jornal.

"São elementos díspares, de natureza própria, que criam relações insuspeitadas entre coisas desconexas", diz Kiki Mazzucchelli, curadora da mostra. "Tem uma certa depressão e melancolia."

É uma sensação que se torna mais aguda na obra em que fotografou um hospício em Odessa, na Rússia. Lá estão salas vazias, o vento soprando suas cortinas brancas, e o brilho fraco e azulado de uma tela de televisão.

"GARGANTA PROFUNDA"

Eco daquelas cortinas, uma instalação tem palavras como "fatos" e "circunstâncias" bordadas em lençóis surrupiados de quartos de hotel. "Foi um dos últimos trabalhos dele", diz Rocha. "Ele viajou para a Mongólia e viu um lençol em que estava bordado buraco negro'."

Sua fixação por hotéis também levou à instalação em que inventou seus próprios letreiros e neons para hotéis fictícios, obra exposta no Sesc Pompeia e recém-comprada pelo MoMA, em Nova York.

Essa estética publicitária também abriu caminho para obras em que Alptekin questiona a natureza das sociedades de consumo exacerbado.

Num painel de paetês, ele escreve "Love Lace", ao mesmo tempo referência à atriz pornô de "Garganta Profunda", Linda Lovelace, e slogans que apelam aos sentidos mais básicos.


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