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Crítica - Ensaio

Lobão "neocon" alimenta debate meia-boca

"Manifesto do Nada na Terra do Nunca", novo livro do músico, tem bobagens homéricas e algumas boas tiradas

LOBÃO, COM SEU FLAMEJANTE OPÚSCULO, PARECE QUERER ASSUMIR O PAPEL DE BANDA DE ROCK DA CONTRARREVOLUÇÃO

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES COLUNISTA DA FOLHA

Antes de tudo, graças ao rebu midiático, já sabemos de tudo. Lobão, o "rock star" hiperbólico, corrosivo e briguento, volta a atacar em seu novo livro, "Manifesto do Nada na Terra do Nunca".

Ataca a MPB, ataca Gilberto Gil, ataca Edu Lobo, ataca Chico Buarque, ataca Ivan Lins, ataca Gonzaguinha; ataca o rap, ataca Mano Brown, ataca roqueiros, ataca Roberto Carlos, ataca as gravadoras e músicos preguiçosos que não entendem de tecnologia de estúdio.

Ataca o mundo "agrobrega" e ataca também a Semana de Arte Moderna, a antropofagia e o nacionalismo --o grande mal.

Mas a cereja do milk-shake vem mesmo da política: Lobão volta à cena editorial definitivamente "neocon". Bem, na realidade isso também se sabia --afinal, não é de hoje que ele é chamado de "direitista hidrófobo" na internet.

Alguém disse, em outros tempos, que o movimento estudantil seria a banda de música da revolução socialista. Lobão, então, com seu flamejante opúsculo, parece querer assumir o papel de banda de rock da contrarrevolução.

Ex-petista desencantado, não deixa companheiro em cima de companheiro. De Ernesto Che Guevara, "um dos maiores e inquestionáveis assassinos do século 20", à presidente Dilma Rousseff, que teria "ficha criminal bastante ampla", passando por Lula, pelo cortejo da militância petista, pela Comissão da Verdade e pelos intelectuais de esquerda (os "carolas estatizados"), tem tomate para todo mundo.

Com essa dinâmica toda, é claro que o videogame pegaria instantaneamente nas redes sociais. É tiro para lá e tiro para cá.

MANIQUEÍSTA

"Patrulhas Eletrônicas contra a Ameaça Fantasma" talvez fosse um bom título para esse debate maniqueísta meia-boca que se trava na baixa blogosfera. Tudo isso, evidentemente, é um saco. E é o que o lançamento de Lobão alimenta, não por um desvio da recepção, mas por ter sido feito para isso.

É claro que em tais condições o julgamento do livro torna-se mera consequência da inclinação ideológica do leitor. A direita vai levar o autor para o trono, e a esquerda, buziná-lo.

PETARDOS

Não obstante, alguém dotado de senso de humor, espírito crítico e liberdade para pensar fora da caixa ideológica binária poderá encontrar, ao lado de bobagens homéricas, alguns petardos muito bem disparados, tiradas engraçadas, histórias inesperadas e considerações inteligentes.

Lobão faz parte de uma geração de músicos que encontrou no rock uma forma de expressão, numa fase em que o declínio da ditadura militar anunciava novos tempos e a entronização do ideário cultural nacional-popular na nascente Nova República.

Para boa parte dos garotos roqueiros daquela época, o intelectual nacionalista de esquerda desempenhava papel semelhante ao de seus antípodas de direita.

Ambos, "reaças e comunas", nutriam a mesma precaução careta e xenófoba a respeito de formas culturais "exóticas" --como era visto o rock.

Não é demais lembrar que tivemos no Brasil uma passeata contra o uso da guitarra elétrica puxada por supostos músicos "progressistas". Compreensível, portanto, que Lobão volte ao tema do nacionalismo como um problema a ser atacado.

Pena que com ideias curtas e esse bocão tão grande.


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