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Crítica - Música erudita

Orquestra Sinfônica Brasileira mostra amadurecimento em SP

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Ao terminar de solar o "Concerto Nazareth", de Paulo Aragão, na última quarta, o violonista Yamandu Costa estava sério: parecia uma criança contrariada por alguém ter acabado com a sua brincadeira. Ele toca com prazer, totalmente envolvido, saboreia cada compasso.

Deu dois bis e chamou o maestro Roberto Minczuk para repetir o terceiro movimento da obra de Aragão.

A apresentação trouxe de volta à Sala São Paulo a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), do Rio de Janeiro --foi a primeira das quatro previstas em São Paulo neste ano.

Homenagem a Ernesto Nazareth (1863-1934), o concerto para violão de sete cordas e orquestra de Aragão é superior à "Suíte Interiores", que Yamandu apresentou com o bandolinista Hamilton de Holanda, em 2011, com a mesma orquestra.

A música nunca perde o interesse harmônico e revela inteligência na (sempre difícil) associação entre violão e orquestra. No primeiro movimento, trata a linha de baixo típica do maxixe à maneira politonal do francês Darius Milhaud (1892-1974).

Seguem-se uma valsa-choro brasileira e um batuque nervoso (com ótimos diálogos entre violão e trombone e discretas citações de Nazareth). A obra projeta Aragão para além do virtuosismo idiossincrático de Yamandu Costa, o que nos faz imaginar como soaria nas mãos de outros intérpretes.

O "Concert Romanesc", do húngaro György Ligeti (1923-2006), foi o momento de brilho da nova OSB. Amplamente renovada há cerca de dois anos, a Sinfônica Brasileira amadureceu bastante.

A peça está longe da micropolifonia que iria marcar o autor de "Lux Aeterna" (1966): escrita em 1951, traz temas ciganos em orquestração arrojada, com destaque para os solos de violino de Mauricio Aguiar, as trompas naturais e os efeitos em harmônicos.

Abrir com o hino nacional --a essa altura, quase no meio do ano-- não era necessário, e até desconcentrou um pouco o público, mas a "Sinfonia nº 4" de Brahms (1833-1897) permitiu apreciar de perto a musicalidade do maestro Minczuk.

Em Brahms, Minczuk busca aquele equilíbrio entre cordas e metais --o som velado das trompas contido na ambiência dos contrabaixos, sem histeria --inspirado nas históricas gravações de Kurt Masur com a Orquestra Gewandhaus, de Leipzig (Alemanha), nos anos 1970.

A obra havia sido ouvida aqui em abril com Kent Nagano e a Sinfônica de Montreal. De certa forma é muito mais difícil ouvir Brahms do que Wagner (ou até mesmo Stravinsky), e chega a ser um mistério como uma música assim complexa possa ter feito tanto sucesso.


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