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Governo do Irã vai processar os produtores e o diretor de "Argo"

Vencedor do Oscar de melhor filme em 2012, longa é acusado de incitar o ódio contra o país

Advogada Isabelle Coutant-Peyre encontra no direito francês possibilidade de queixa penal contra a obra

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

Enfurecido pelo filme "Argo", o governo do Irã vai processar os responsáveis pela produção e distribuição da obra que faturou o Oscar de melhor filme em 2012.

A ação será conduzida pela advogada francesa Isabelle Coutant-Peyre, mulher e defensora do guerrilheiro conhecido como Carlos, o Chacal, que aterrorizou o mundo nos anos 1970 e 1980.

Em entrevista à Folha, Coutant-Peyre disse que o processo visa a demonstrar que "Argo" incita o ódio contra "a nação iraniana". O filme narra a missão secreta que retirou do Irã seis diplomatas americanos em meio à tomada da então embaixada dos EUA, em Teerã, após a revolução islâmica, em 1979.

Coutant-Peyre, que já defendeu a família do ex-ditador líbio Muammar Gaddafi e os pais do jovem acusado de matar sete pessoas numa escola judaica na França em 2012, disse que seus clientes são vítimas políticas.

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Folha - Foi a senhora quem ofereceu seus serviços ao Irã no caso "Argo"?

Coutant-Peyre - Não sou o tipo de advogado que sai oferecendo seus serviços. [Os iranianos me] perguntaram se era possível ir além das declarações públicas condenando "Argo". Busquei um caminho jurídico para mostrar que o filme não passa de uma obra de propaganda.

Encontrei no direito francês uma possibilidade, que é a de uma queixa penal por incitar a discriminação e o ódio contra a nação iraniana.

Posso explorar as mentiras históricas que contradizem a pretensão do filme de ser uma história verdadeira.

Temos vários depoimentos que contradizem o filme, inclusive por parte do [presidente americano na época do sequestro Jimmy] Carter e dos embaixadores do Canadá e do Reino Unido em Teerã no momento dos fatos.

Todos dizem que a CIA teve papel irrelevante na história, embora o filme seja feito à glória da agência americana. Dizem ainda que o retrato da população iraniana, apresentada como assustadora, não corresponde à realidade.

Ou seja, o processo contra "Argo" será lançado em Paris?

O caminho que encontrei está no direito francês. "Argo" saiu de cartaz, mas continua distribuído pela Warner por meio de venda de DVDs, inclusive em Paris, o que faz da cidade um lugar de competência jurídica para o processo. Qualquer cidade onde o DVD for comercializado pode ser considerado local da ocorrência. A ação penal permite ir além da Warner.

Queremos apresentar queixa contra os senhores Ben Affleck, o diretor, e George Clooney, na sua condição de produtor, e intimá-los a comparecer. Por outro lado, cogito também abrir um processo nos EUA.

O objetivo é uma indenização?

O objetivo é parar com esse tipo de produção hollywoodiana. A teatralização chegou a níveis inéditos no caso de "Argo", já que foi a Casa Branca quem entregou o Oscar, evidenciando o comprometimento político das mais altas esferas do Estado americano para promover o filme.

O que responde aos que a acusam de defender terroristas?

Defendo causas políticas criminalizadas por pressão de Estados. Carlos [o Chacal] se diz revolucionário profissional, mas ele é comunista e reivindica muitas operações em favor dos palestinos.

Veja o caso da OPEP [ataque comandado por Carlos contra a sede da organização dos países exportadores de petróleo, em Viena, 1975].

A ação ajudou a elevar o preço do barril que era empurrado para baixo por pressão americana. Com a elevação dos preços, os países doadores retomaram a ajuda financeira à causa palestina, que estava suspensa por causa da baixa cotação.

A senhora não se importa com as mortes de inocentes nos atentados?

Claro que sim, mas infelizmente é uma guerra, na qual há muito menos mortes nas ações revolucionárias do que nas invasões do Iraque, do Afeganistão ou da Líbia.


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