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Meu maldito favorito

Colóquio internacional na USP discute os artistas "amaldiçoados"; Folha faz enquete sobre as grandes ovelhas negras da cultura nacional

CASSIANO ELEK MACHADO DE SÃO PAULO

Em 1884 apareceram sorrateiramente em algumas bancas de livros de Paris uns livrinhos beges com a expressão "Poetas Malditos" escrita em vermelho na capa.

Seu autor, o poeta e ensaísta francês Paul Verlaine (1844-96), reunia nele pequenos ensaios e poemas de três escritores conterrâneos: Arthur Rimbaud, Stéphane Mallarmé e Tristan Corbière.

Mais do que uma coletânea de escritores quase obscuros à época, Verlaine cunhava ali um termo que não só entraria para o cânone literário como seria debatido em universidades, mesmo mais de 120 anos mais tarde.

Bom exemplo é o colóquio "Malditos nos Trópicos", que reúne hoje e amanhã na Universidade de São Paulo 13 destacados pesquisadores brasileiros, franceses e italianos para esmiuçar o que é a maldição literária.

Concebido pelos professores Eliane Robert Moraes (USP) e Camille Dumoulié (Universidade de Nanterre), o evento tratará de uma ampla gama de "malditos". Estarão em debate figuras distantes como o poeta baiano do século 17 Gregório de Matos (o "Boca do Inferno") e o rapper paulistano Sabotage, assassinado há dez anos.

E o que são os "malditos"? "São os artistas que dão as costas à sociedade", explica Robert Moraes, que associa a estas "ovelhas negras" traços comuns como "a exaltação do mal", a "sexualidade fora dos padrões" e a proximidade com o universo do crime.

"O grande doente, o grande criminoso, o grande maldito", chegou a definir o maldito Arthur Rimbaud (1854-91), que encerrou sua brilhante e curta carreira poética e foi traficar armas na África.

O professor italiano Ettore Finazzi-Agrò explica que figuras como Rimbaud e Verlaine são incontornáveis nesta discussão, mas a "maldição" é bem mais ampla.

"A definição de maudits' se refere a uma época e a autores bem definidos, como Rimbaud e Mallarmé, mas é evidente que o adjetivo pode se abrir a outras épocas e a outros autores, incluindo tempos e espaços longínquos da França dos finais do século 19", diz Agrò, que falará no colóquio sobre o dramaturgo (e maldito) gaúcho Qorpo Santo (1829-1883).

Robert Moraes comenta que a ideia de centrar a programação em brasileiros procura examinar como malditos à la Charles Baudelaire ecoaram aqui e definir, não de maneira exaustiva, a história dos "maudits" do país.

A conferência de abertura, de João Adolfo Hansen, será a mais panorâmica. O professor da USP percorrerá um arco que vai de Gregório de Matos a Glauco Mattoso, que aos 61 anos continua ativo.

Personagens ainda menos evidentes, como o criminoso Febrônio Índio do Brasil (1895-1984), tema de Carlos Augusto Calil, ou a poeta Gilka Machado (1893-1980), objeto de Maria Lucia dal Farra, compõem esta história.

MALDITOS BRASILEIROS

Usando o mote do colóquio, a Folha ouviu dezenas de personalidades culturais para questionar quem são seus "malditos" brasileiros prediletos, em diferentes áreas de atuação.

Os amaldiçoados "eleitos" não fazem parte da programação do colóquio.

"O universo dos malditos é elástico. Assim como na França vem desde François Villon, no século 15, aqui poderíamos ter incluído vários grandes escritores, de Álvares de Azevedo e Augusto dos Anjos a Hilda Hilst e Roberto Piva", diz Robert Moraes.


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