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Crítica - Exposição

Mostra revela força transformadora de Bowie

"David Bowie Is", em Londres, reúne imagens, vídeos, músicas e figurinos do artista que segue influenciando o pop

ZECA CAMARGO ESPECIAL PARA A FOLHA

Com quantos Bowies se faz uma exposição? Para o Victoria & Albert Museum, em Londres, basta apenas um. Mas ele tem que ser astronauta, samurai, duque, dândi, pierrô, alienígena, mutante, travesti.

E ainda precisa ser, nas palavras do jornalista que, numa reportagem de 1972 para a BBC inglesa durante um show do artista, não conseguia entender o fascínio que ele despertava nas mulheres, uma "aberração".

As imagens que acompanham o repórter "chocado" estão logo na entrada de "David Bowie Is" --que pode ser vista até dia 11 de agosto no museu em Londres, se você tiver a sorte de conseguir um ingresso.

No site do Victoria & Albert Museum, um aviso: "devido à imensa procura, bilhetes on-line estão esgotados". Sua melhor chance, se passar pela capital inglesa, é comprar uma entrada da reduzida cota diária que o museu disponibiliza pela manhã.

Ou então esperar até janeiro de 2014, quando o MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo promete apresentar boa parte do material.

Mas o que vemos quando vamos a um museu conferir uma mostra organizada em torno de um artista como Bowie? Diferente de uma retrospectiva de um grande pintor, por exemplo, o mais importante é entrar nas salas disposto não apenas a ver, mas também a ouvir.

No V&A todos os visitantes usam fones que vão transmitindo músicas, entrevistas, arquivos sonoros e qualquer espécie de som que --junto com fotos, pôsteres, roupas e vídeos-- os faça entrar no clima daquele ambiente. E Bowie, claro, sempre foi bom de criar climas...

Quieto por alguns anos, ele ressurgiu fulgurosamente em 2013, com seu brilhante álbum "The Next Day" e essa exposição.

Mas, olhando todas as imagens de Bowie através de mais de quatro décadas, finalmente reunidas num museu, a certeza que se tem é a de que ele nunca foi embora.

Bowie aparece no punk dos anos 1970 e nos "new romantics" dos 1980. De Madonna a Lady Gaga. Para cada vestidinho de jérsei que Kurt Cobain usava, David Bowie já tinha desfilado um bom punhado de figurinos andróginos.

Elton John, Ney Matogrosso, Robert Smith, Morrissey, Cássia Eller, Jack White --lembre de um nome que chamou atenção no pop nesses últimos 40 anos e, pasme: a influência de Bowie está lá.

Por isso talvez os curadores da exposição tenham decidido batizá-la de "David Bowie É" (ou "Está", no duplo sentido que o verbo tem em inglês) --e não "David Bowie Foi" (ou "Esteve").

Porque, seja em qualquer personagem, qualquer reencarnação, Bowie é e está presente --um título que uma derivação inesperada de Bowie, Marina Abramovic, usou na sua famosa retrospectiva no MoMA de Nova York em 2010--, mudando tudo até hoje.

Aos modernos que acham que bastam 140 toques e uma piadinha para fazer uma revolução, "David Bowie Is" é uma lição instrutiva.

Crente de que é agente transformadora, uma geração inteira está simplesmente fazendo o que todo mundo quer que ela faça, quando, como o próprio Bowie já cantou em "Changes", para fazer diferença mesmo, basta um gesto muito simples: "Vire-se e encare o estranho".


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