Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Crítica romance

Faroeste tardio recorda roteiros de Tarantino

Protagonistas de 'Os Irmãos Sister' parecem personagens de Cormac McCarthy adaptados pelos irmãos Coen

JOCA REINERS TERRON ESPECIAL PARA A FOLHA

Estranhos tempos, estes, em que paródias literárias não partem mais de matrizes livrescas. "Os Irmãos Sister", romance do canadense Patrick deWitt, trilha essa senda tortuosa. É um faroeste tardio que não se baseia em Zane Grey (1872-1939) ou Louis L'Amour (1908-1988), autores clássicos do gênero.

Também não emula, exceto pela violência, o lirismo imagético de Cormac McCarthy, que pincelou pradarias faulkneriamente em "Meridiano de Sangue" (1985) e em sua "Trilogia da Fronteira" (1992). Pela velocidade hilária dos diálogos, deWitt recorda os roteiros de Quentin Tarantino. Usa o cinema como ponto de partida, em vez de parodiar obras literárias.

Nesse aspecto, portanto, trata-se do reflexo do reflexo do reflexo, um procedimento labiríntico que geralmente resulta em criações mais frias que cauda de pinguim em dia de pesca no polo Sul. Esse parece ser o grande mal do século, a arte cada vez mais distante da vida, certo? Errado, ao menos no caso de "Os Irmãos Sister".

Relato de viagem passado em 1881, o livro narra a travessia dos assassinos Charlie e Eli, enviados pelo Comendador para matar um desafeto na Califórnia.

Ao longo do caminho, os dois irmãos cruzam com os mais distintos exemplos de encarnação da miséria humana. De garimpeiros mortos de fome a prostitutas que se apaixonam, os tipos que atravessam a frente dos Sister estão às voltas com dilemas morais. Se relevantes ou não, pouco importa.

Eli Sister, o narrador, é um deles. Recusado por uma mulher por ser gordo, decide começar uma dieta. No exato instante em que faz isso, sua existência se torna infernal. Como explicar à cozinheira do saloon que gostaria de algo menos pesado, em vez de carne gordurosa com batata? E por que a torta oferecida por ela tinha de ser de framboesa, a sua predileta?

As crises dos pistoleiros não são muito diferentes dos problemas enfrentados por qualquer um de nós, cidadãos do século 21, mas a linguagem que usam, é. Falam como filósofos de férias, intelectuais a cavalo. As conversas que Eli tem com seu cavalo Tub, um velho quadrúpede cego de um olho e à beira da aposentadoria, são dignas de Rocinante e Dom Quixote.

Como em todo relato de viagem, enquanto a paisagem externa muda, o íntimo dos personagens também se transforma, e Eli e Charlie Sister chegam ao final metamorfoseados em novas pessoas. Não que isso os impeça de se parecerem com personagens de Cormac McCarthy adaptados ao cinema pelos irmãos Coen e novamente trazidos às páginas de um livro por Patrick deWitt.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página