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Titãs como você nunca ouviu

Grupo faz seis shows em São Paulo a partir de sexta-feira para tocar dez músicas inéditas que podem fazer parte do novo disco de estúdio da banda, a ser gravado em janeiro

THALES DE MENEZES EDITOR-ASSISTENTE DA "ILUSTRADA"

Era esta a relação de músicas escrita com garranchos, numa folha de papel presa com durex na parede de um estúdio de gravação paulistano, na última quinta-feira:

"Eu me Sinto Bem"
"Renata"
"Terra à Vista"
"Senhor!"
"Baião de Dois"
"Mensageiro"
"Quem São os Animais?"
"Não Pode"
"Flores pra Ela"
"Van Cliff"

Diante dela, os Titãs repassaram, uma a uma, as dez inéditas que são atração principal de uma curta temporada no Sesc Pompeia, a partir da próxima sexta. Os 4.800 ingressos estão esgotados, vendidos em dois dias.

O grupo resolveu testar o novo repertório diante dos fãs. Vai abrir a apresentação com as músicas novas para depois desfilar hits dos mais de 30 anos de carreira.

O show pode não ser a prévia do próximo disco. "A gente pretende gravar em janeiro. Até agora temos essas dez músicas e vamos juntar mais até lá. Por isso, estas não estarão necessariamente no álbum", explica Sérgio Britto.

De uma primeira leva de quatro músicas com a qual o grupo iniciou o trabalho, a única que ficou foi "Renata".

Para Britto, o teste do repertório deve funcionar porque a resposta na internet é rápida."Você toca uma música num show e logo todos já comentam. Não que isso vá guiar o trabalho, mas é bom ter esse contato."

Branco Mello lembra que a banda já fez isso nos anos 1980. "Na turnê do Cabeça Dinossauro', em 1988, a gente já estava gravando Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas' e colocava músicas novas nos shows. É bom vivenciar as músicas. Elas crescem na estrada ou então mostram que talvez não sejam o que a gente quer."

Na audição feita para o repórter da Folha, as músicas exibiram forte parentesco com "Cabeça Dinossauro", o disco que completou 25 anos em 2012 e motivou uma turnê comemorativa da banda.

Segundo Tony Bellotto, "a resposta do público na turnê do Cabeça' evidenciou como o grupo é muito associado ao rock mais pesado, de letras contundentes."

Paulo Miklos complementa: "É a coisa da vocação da banda, é o que a gente sabe fazer e acha que faz bem".

UNIVERSO PARTICULAR

Os Titãs concordam que o novo material deve se misturar sem sobressaltos ao repertório clássico da banda.

"As pessoas já compreendem todo o repertório como um universo nosso, mesmo com músicas mais rápidas ou mais lentas. É a alma da banda, ela é uma entidade, um ser psicótico", afirma Miklos.

"E que faz coisas diferentes, porque ninguém é só revoltado ou só tranquilo. Ninguém na vida é mono, né?", emenda Britto. "Às vezes, a gente muda para continuar igual", filosofa Bellotto.

Eles destacam os efeitos da revisão de "Cabeça Dinossauro". Para Branco, o processo trouxe a banda para uma intimidade grande no estúdio, "agora que eu toco baixo e o Paulo, guitarras."

Britto brinca que, além do baterista Mario Fabre, que passou a tocar com eles há três anos, o grupo tem mais dois "novos integrantes".

"Mudou a mecânica da banda, porque tem dois caras novos. É uma piada, claro, mas o Paulo e o Branco não tocaram esse material no Cabeça', na época eles eram só cantores. Resgatando essas canções, a gente viu como as músicas estavam bem resolvidas, mesmo com poucos elementos, Talvez seja uma característica nossa."

Continuando a explicar como a banda funciona, Britto enfatiza o consenso. "A gente discute tudo, cada detalhe. Uma das poucas democracias verdadeiras é a nossa. Pelo menos em bandas. Aqui, até a minoria tem poder de veto. Se um cara ficar muito incomodado com o rumo de alguma coisa, a gente pode rever, mudar ou até jogar fora."

Apesar de uma intenção de incorporar mais elementos brasileiros na sonoridade, se depender das novas músicas o consenso titânico segue firme no rock. "Acho que, se você olhar para trás na música brasileira, há uma carência de um som mais agressivo", afirma Britto.

Nos recentes conflitos de rua em São Paulo, os manifestantes diante de soldados da PM cantavam a letra de "Polícia", faixa marcante de "Cabeça Dinossauro".

Para Bellotto, "tem o lado legal de ver uma música nossa representando o momento de outras pessoas, mas tem o lado ruim de você ver como algumas coisas nada boas continuam as mesmas".

Para Britto, "uma das coisas legais do Cabeça' é não ser panfletário, mas criticar de modo geral o poder das instituições. Veja o que aconteceu em manifestações na França, na Espanha, isso não vai mudar. A polícia sempre será repressora e sempre vai passar da medida."


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