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Flip 2013

Poetas discutem o cotidiano na escrita

Alice Sant'Anna, Bruna Beber e Ana Martins Marques participam de mesa mediada por Noemi Jaffe em Paraty

Com motivações pessoais diferentes para escrever, elas não querem que sua poesia seja vista como solene

FRANCESCA ANGIOLILLO EDITORA-ADJUNTA DA "ILUSTRÍSSIMA"

Alice, 25, trabalha numa revista, Bruna, 29, numa editora, Ana, 35, é redatora e revisora num órgão público. Alice nasceu no Rio, Bruna, em Duque de Caxias (mas mora em São Paulo), e Ana, em Belo Horizonte.

Alice Sant'Anna, Bruna Beber e Ana Martins Marques são poetas e fazem hoje na Flip a mesa "O Dia a Dia Debaixo d'Água", mediadas por Noemi Jaffe, crítica literária e escritora.

Os deslizes entre os fatos e as possibilidades são, para Jaffe, um tema possível para a conversa --que versará sobre o cotidiano na escrita e que teve uma prévia num "chat" de Facebook, maneira encontrada para reunir o trio, que só em Paraty terá seu primeiro encontro real.

Para as três autoras, o ofício surgiu de maneira natural --Bruna e Ana escrevem versos desde a infância, e Alice, que ensaiava entrar na escrita pelos contos, passou a se dedicar à poesia após topar, na escola, com um poema de Ana Cristina Cesar (1952-1983). Suas motivações para fazê-lo, porém, são diferentes e revelam, de certa forma, traços da poesia de cada uma.

"Acho que a poesia ficou sendo meu jeito de prestar atenção nas coisas", diz Ana. "A Sophia de Mello Breyner Andresen [Portugal, 1919-2004] fala alguma coisa assim: escrever poesia é fazer um círculo em volta de uma coisa", arrisca a mineira, cuja poesia tem, de fato, um caráter muitas vezes interrogativo.

Para Bruna, a resposta é mais sucinta. "Escrevo poesia porque gosto de escrever poesia e gosto de poesia."

Já Alice, brincalhona, resume: "Comecei a escrever, para valer, porque era muito ruim em educação física".

Enquanto para Alice o cotidiano é a fonte incontornável de toda poesia ("Não sei de uma poesia em que isso não apareça"), Bruna diz que "nem sempre se escreve sobre o habitual, o corriqueiro".

"Se colocarmos nesses termos, não existiria invenção. Acho que o tema da mesa trata disso, do que está próximo e é rotineiro."

"Talvez seja mesmo uma das características frequentes da poesia tratar dos grandes temas a partir do singular, dos objetos cotidianos, do pequeno", diz Ana. "De qualquer modo, isso diz respeito a um plano temático, e nesse aspecto não há tantas questões assim a serem tratadas. O que importa é o como."

SEM ROTINA

Se o cotidiano conforma a poesia das três, o contrário, contudo, nem sempre se dá. Nenhuma delas diz escrever com rotina de escritório.

Bruna diz que gosta de "sentar para escrever, como é mais saboroso fumar um cigarro sem fazer outra coisa ao mesmo tempo"; Ana se angustia quando passa muito tempo sem produzir, temendo que não seja "capaz de escrever alguma coisa de novo"; e Alice se preocupa bem menos: "O último poema escrevi há três meses", calcula.

De modo geral, porém, é de leveza a relação que as poetas têm no dia a dia com o ofício que abracaram no paralelo de seu ganha-pão ("Não dá para escrever poeta como profissão em ficha de hotel", diz Ana, "vão pensar que você não tem dinheiro para pagar").

E nenhuma delas quer, nem de longe, que sua poesia seja vista como algo "solene" --mesmo se dificilmente poderia, seja o tema o amor ou a decepção de calçar sandálias num dia de chuva. "Aliás, que palavra, solene, parece nome de creme de cabelo vagabundo", ironiza Bruna.


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