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Crítica - História
Livro instiga reflexão sobre período recente
Carregado de conteúdo explosivamente ideológico, 'O Leviatã Desafiado' propõe debate inteligente ao leitor
QUEM APRECIA O DEBATE INTELIGENTE E BEM INFORMADO DOS GRANDES PROBLEMAS CONTEMPORÂNEOS GOSTARÁ DO LIVRO
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA ESPECIAL PARA A FOLHAOs brasileiros vêm assistindo nestas semanas a acontecimentos que, sem dúvida, surpreendem um número expressivo de pessoas, entre elas alguns de seus melhores intelectuais e analistas.
Por isso, nada mais oportuno do que refletir um pouco sobre de que modo fatos imprevistos modificam os rumos da história e subvertem previsões racionais que parecem inquestionáveis.
Este é um dos méritos do volume 2 de "Liberdade versus Igualdade "" O Leviatã Desafiado (1946-2001)", escrito por Demétrio Magnoli e Elaine Senise Barbosa.
O livro abre com uma citação do filósofo polonês Leszek Kolakowski, severo crítico do marxismo: "A história humana é uma coleção de acidentes imprevisíveis --e todos nós poderíamos facilmente citar inúmeras situações nas quais um evento que foi claramente decisivo para moldar o destino da humanidade pelas décadas ou séculos subsequentes poderia ter tomado rumo diverso do que tomou".
EXPLOSIVO
Magnoli e Barbosa se expõem a muitos riscos com este trabalho, que é um exercício acadêmico do que se pode chamar de "história a quente", quase jornalística, por lidar com fenômenos recentes do ponto de vista da perspectiva histórica e carregados de conteúdo explosivamente ideológico ainda nos dias atuais, em especial em um país como o Brasil.
Mais razões para que ele seja bem-vindo, pois só quem aprecia o totalitarismo prefere o falso debate em que só uma visão do mundo é apresentada.
Embora, como os autores ressaltam, a história das ideias políticas no século 20 não sirva como comprovação de nenhuma teoria geral sobre a história, nem aponte para um destino inelutável, nem ateste a verdade absoluta de alguma doutrina ideológica, ela decisivamente não é inútil, exceto para quem prefere cultivar a unanimidade de pensamento, reprimir o livre debate de ideias antagônicas entre si e, com isso, renunciar ao direito de pensar.
Os autores deste livro, ao contrário, instigam seu leitor a refletir sobre teses que durante vários anos foram consideradas quase indiscutíveis em alguns campos da intelectualidade brasileira, particularmente no período da resistência à ditadura militar, quando a necessidade de combater um inimigo comum poderoso fez com que divergências fossem colocadas de lado ou pelo menos perdessem a relevância imediata.
Muitos acharão diversas afirmações no livro de que poderão discordar decididamente (este resenhista encontrou diversas, em especial nas análises políticas sobre os Estados Unidos).
Mas quem aprecia o debate inteligente e bem informado dos grandes problemas contemporâneos o apreciará.