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Mostra na favela do Moinho não evita excesso de clichês

Programação reuniu nove grupos de teatro paulistas, entre eles a Engenho Teatral e o Núcleo Pavanelli

Realizada no último domingo, um mês depois de um incêndio no local, série de peças fez retrato da miséria

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

Sob o viaduto Orlando Murgel, passando a linha do trem, começa o labirinto entre os barracos da favela do Moinho, atingida por um incêndio em setembro.

Um dos caminhos desemboca em um pátio onde, no último domingo, assentou-se a 1ª Mostra de Teatro do Moinho, com companhias teatrais jovens de São Paulo.

Entre os organizadores, estava o encenador Rafael Presto, com influência de Antonio Araújo e Sérgio de Carvalho, seus professores na Escola de Comunicações e Artes da USP. No ano passado, ele chamou a atenção por dirigir uma peça na cracolândia, região da Luz. "Piratas de Galocha" passava rente a grupos de usuários.

Outros lastros não faltaram à Mostra do Moinho. Na programação, havia grupos fomentados pelo poder público neste ano: o Núcleo Pavanelli, por exemplo, ganhou subsídio de quase R$ 600 mil da prefeitura; e o Engenho Teatral teve acesso a R$ 620 mil pelo mesmo programa.

Segundo Presto, a programação abre caminho para "um circuito cultural periférico". "Há uma produção desconhecida pelo centro da cidade." Amanhã, o espaço da favela será ocupado por um sarau a partir das 19h30.

BEIJO SEM ASFALTO

A Folha acompanhou a mostra das 16h às 20h, quando cinco trabalhos foram encenados. A plateia misturava moradores e não moradores da favela, muitas crianças presentes. O público adulto tomou parte com timidez. Esse desequilíbrio refletia desinteresse entre os moradores. Alguns passavam reto.

Houve também excesso de discurso panfletário. A mostra integrava ação movida para pedir infraestrutura ao poder público, com respaldo nas cartilhas de urbanismo, que frequentemente abençoam ocupações do espaço urbano pela cultura. Em alguns momentos, desviou-se para o espírito messiânico.

A intervenção do grupo Segunda Opinião fugiu à regra, terminando com um performático beijo gay entre pugilistas. A plateia aprovou, com assobios e salva de palmas.

Em "Samba pra Construção", a companhia Nóis na Mala perdeu o rumo com crianças invadindo a cena. Outros grupos souberam tirar partido da interatividade.

Os atores da companhia Kiwi listaram chacinas entre 1990 e 2013 no país. Acabaram em questões-clichê do tipo "os donos do poder não conseguem entender" etc.

O Núcleo Pavanelli, em "Aqui, Não, Senhor Patrão" esbanjou disposição física em técnicas circenses, mas o retrato do patrão mau, com chicote na mão, fica demasiado aquém do que Chaplin já fez.

A Karroça Antropofágica, ao fim da mostra, foi de encher os olhos. Sobre a carroça puxada por homens, em espaço com menos de três metros quadrados, uma banda toca versões de músicas pop, iluminando o caminho com luzes avermelhadas.

Ainda houve cenas da vida real misturadas à ficção. Uma mulher saiu correndo de um barraco. Gritava: "Eu não te amo mais". Um homem correu atrás, e a briga chegou ao centro de uma cena de "Aqui, Não, Senhor Patrão". Ele acabou imobilizado pelo mata-leão de um terceiro.


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