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Crítica Serial

LUCIANA COELHO - coelho.l@uol.com.br

Comédia da Globo tenta inovar, mas falha

Apesar do elenco afinado e da produção esmerada, 'A Mulher do Prefeito' tropeça nos diálogos e no ritmo

A primeira coisa que chama a atenção de um espectador contumaz de sitcoms americanas ao assistir "A Mulher do Prefeito", série semanal em 12 episódios com Denise Fraga e Tony Ramos que a Globo estreou no último dia 4, é uma questão de gênero que espelha a cultura política (e eleitoral) dos dois países.

Quase sempre que políticos vão parar na ficção televisiva dos EUA, temos um drama ("Veep" é a boa exceção); toda vez que aparecem na TV brasileira, temos uma comédia. Soa sintomático?

A segunda coisa que sobressai é a produção esmerada, nas mãos do diretor Luís Villaça (marido da atriz) e da produtora O2 em parceria com a Globo, escorada na direção de arte modernosa de Cássio Amarante e na fotografia elegante de Alexandre Ermel.

A terceira é menos lisonjeira. Mesmo com argumento atraente, ótimos atores, produção caprichada, uma produtora de ponta e um megacanal de TV por trás, as séries cômicas brasileiras ainda sofrem com um problema de diálogos e ritmo.

Por alguma peculiaridade nacional, eles funcionam em dramas. E servem bem para séries de roteiro mais fluido, como "Os Normais" e "A Grande Família", talvez mais identificadas com o tipo de humor nacional. Mas raramente nas versões brasileiras das sitcoms.

Em "A Mulher do Prefeito", as conversas entre os personagens soam como esquetes esticados, um problema do roteiro de Marcelo Gonçalves e Bernardo Guilherme.

É verdade que do primeiro episódio, que apresenta os personagens da forma mais convencional possível, para o segundo houve grande melhora.

Mas ainda há algo deslocado na série --talvez a trilha sonora, montada em cima de hits da dance dos anos 70?--; o humor se ampara em estereótipos demais; e falta a ousadia vista nos dramas levados ao ar pela Globo nos últimos anos.

Só não se pode acusar "A Mulher do Prefeito" de falta de atualidade.

A história se desenvolve a partir de um estádio gigantesco construído com verbas desviadas, o que leva à prisão domiciliar do prefeito (Ramos) da fictícia Pintanguá, cidade média do interior de São Paulo. O episódio catapulta à prefeitura sua mulher e vice, a adestradora de animais Aurora (Fraga).

Ela é honesta e ingênua (ao ponto da inverossimilhança); ele é malandro (ao ponto da caricatura).

Fraga e Ramos fazem o que podem para conter exageros. Em volta orbitam o assessor puxa-saco apaixonado; a empresária ambiciosa que comanda o time e as negociatas locais, a filha adolescente, a amante perua e a empregada espevitada, entre outros pouco originais.

A crítica política é bem-vinda e não chega ao escracho, mas poderia ser mais leve e menos maniqueísta, apostar menos na forma e mais no conteúdo --outro reflexo da forma como vemos nossos candidatos.

A ver se, como sua protagonista, a série merece um voto de confiança na expectativa de que ajuste as estranhezas ao avançar.


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