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Crítica concerto

Orquestra finlandesa destaca silêncios da música de Sibelius

Na Sala São Paulo, Sinfônica de Lahti fez interpretação impecável da 'Sinfonia nº 5' do compositor finlandês

SIDNEY MOLINA CRÍTICO DA FOLHA

Entre cada um dos seis acordes finais de uma simples cadência tonal, um silêncio forte, total. O último desses silêncios é aquele que resta no ar quando a música acaba --e que remete àquele outro, o que estava lá antes de tudo começar.

O final da "Sinfonia nº 5" de Jean Sibelius (1865-1957) poderia soar banal, mas na noite do último sábado foi o ponto culminante de uma interpretação impecável da Orquestra Sinfônica Finlandesa de Lahti regida por Okko Kamu (atração trazida pela Cultura Artística).

Situada a cem quilômetros da capital, Helsinque, a cidade de Lahti abriga anualmente um importante Festival Sibelius --compositor que se confunde com a história moderna do país e cuja obra foi se tornando a especialidade da orquestra.

Composta a partir de uma encomenda governamental para os 50 anos do (já àquela altura) célebre compositor, a "Sinfonia nº 5" é uma obra na qual forma e estilo são propositalmente incertos, e que encontra soluções originais sem medo de expor banalidades.

Ao contrário da música de seu contemporâneo Mahler (1860-1911), tensões e falhas do humano não encontram repouso em nenhuma esfera transcendente: a crise de Sibelius é perene e o levaria, de fato, a décadas de silêncio artístico.

Na primeira peça do programa, "Manfred", de Schumann (1810-56) --antecedida por toque de celular na plateia no instante em que ia começar--, os sopros ainda não haviam encontrado o seu som na acústica da Sala São Paulo.

A evolução se deu no "Concerto para violino nº 1" do alemão Max Bruch (1838-1920), também antecedido por um celular no momento em que o maestro ia dar a entrada aos tímpanos.

A solista foi Elina Vähälä, de 38 anos, cuja estreia em concerto ocorreu aos 12, com a própria Orquestra Lahti.

Em Bruch, Okko Kamu colocou o som da orquestra no lugar, isto é, sem perder corpo, mas, ao mesmo tempo, deixando o espaço necessário para os solos.

As cordas complementavam as frases da violinista na exata equalização, no mesmo timbre.

Vähälä é uma violinista elegante e tecnicamente perfeita. Tem um som lindo e homogêneo, com graves nítidos e agudos que ressoam.

Talvez, porém, tenha faltado aquele detalhe que torna certas interpretações inesquecíveis. Como número extra, tocou a "Sarabande" da "Partita nº 2" de Bach (1685-1750).

Mas foi mesmo na sinfonia que os músicos finlandeses fizeram uma das melhores performances da atual temporada.

E, depois dos silêncios finais, como bis, nada mais adequado do que a "Valsa Triste", do próprio Sibelius.


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