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Chega de roupa

Força dos acessórios e culto à pele põem em xeque a importância do vestuário e fortalecem a 'tendência' da não-roupa

ISABELLE MOREIRA LIMA DE SÃO PAULO COLABOROU PEDRO DINIZ

Numa época em que desfile serve para vender perfume, bolsa e sapato, a roupa, que já foi o centro do mundo fashion, perde importância.

A tendência forte de um setor em crise, creia se puder, é a não-roupa, coisa que uma escola mais retrô chamaria ainda de "pouca vergonha".

Mas há várias vertentes da tendência. Há os "peladistas" --os que acham que andar quase nu é o novo preto, talvez até por razões ambientais--; há peças que simulam pele; e há aquelas vestes conceituais que jamais chegam ao consumidor e, portanto, são tudo, menos roupa.

No outono-inverno 2013 de Londres, a estilista britânica Pam Hogg deu show de não- roupa: seu desfile tinha mais nu frontal do que coleção. No verão novaiorquino, homens aderiram, saíndo às ruas descamisados. No showbizz, Lady Gaga e Miley Cyrus são as divulgadoras da tendência.

Esta repórter recebeu a missão de verificar se isso ajudaria a semana de moda a economizar nos tecidos. Mas ali o peladismo foi soft, travestido de transparências em looks de Herchcovitch, Acquastudio e Lino Villaventura.

Fora da passarela, tudo estava meio fora de moda: se pele é tendência, a maioria estava protegida do frio

A reportagem abordou uma moça magra e alta e sem frio, com microshort e regata. Seria a primeira a adotar a ideia? A dona do look instintivo era a modelo Alana Klein, 19. Nunca ouvira falar em não-roupa: "Mas já vi, na passarela, acessório no lugar da roupa, como um colar grande para esconder os seios".

É isso. A poucos metros dali, um grupo multigênero vestia roupões. Seriam entusiastas da não-roupa? Não, trabalhavam duro numa ação de marketing de uma revista de moda, o tema era sauna.

Pelo jeito, na SPFW, não-roupa é não-tendência. O jeito era ir ouvir "especialistas".

A consultora Constanza Pascolato pediu explicações. "Estão usando pelado?" Para ela, a onda não chega ao Brasil. "A não-roupa está na Amazônia", brincou. Já o estilista Vitorino Campos testemunhou acreditar muito "nas coisas naturais".

Longe da passarela, experts ficaram mais à vontade para teorizar sobre a coisa.A roupa perdeu apelo, diz o sociólogo Dario Caldas, do birô de tendências Observatório de Sinais. "A acessibilidade da moda e a expansão do fast-fashion faz com que as pessoas não identifiquem mais a roupa como um elemento de diferenciação." Quer dizer: se a peça não nos dá status, melhor arrancá-la fora.

A consultora de moda Mariana Rocha vê o fenômeno da não-roupa como uma busca artificial de neutralidade: "É como esmalte nude. Você passa meia-hora no salão, gasta dinheiro e ficar com unha da cor de nada. Um tremendo artificialismo". Para ela, a não-roupa não significa menos tecido, mas um simulacro da pele cujo objetivo é esvaziar a carregação fashion.

Em palestra na SPFW, o antropólogo norte-americano Ted Polhemus afirmou que as marcas deixaram de vender roupas para comercializar apenas um ideal de estilo.

O estilista Dudu Bertholini, da Neon, confirma a tendência, mas corrige: "Jamais diria que a roupa está em segundo plano". Há três anos, Dudu usou nu frontal na passarela. "Foi uma decisão estética. A gente achou que ficaria mais bonitinho."


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