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Dois espetáculos retratam o mundo corporativo como símbolo de opressão e de perda de identidades individuais

GUSTAVO FIORATTI DE SÃO PAULO

O terno que Marco Nanini usa no espetáculo "A Arte e a Maneira de Abordar seu Chefe para Pedir um Aumento" --em cartaz no Sesc Vila Mariana-- foi comprado em loja da rede Vila Romana.

A casa vende para "o homem que procura uma marca para todas as ocasiões do dia a dia" e que investe em algo "que lhe dê segurança e serviço", informa seu site.

E não é que essas qualidades caem como luva ao personagem do monólogo escrito pelo francês Georges Perec (1936-1982) nos anos 1960?

Em cena, um palestrante passa adiante sua metodologia para conseguir aumento.

Pronto. Encontrou-se na figura do executivo um arquétipo, anódino em sua forma de se expressar. Segundo Antonio Guedes, figurinista da montagem dirigida por Guel Arraes, o terno caracteriza "um personagem que não quer revelar personalidade".

Trata-se ainda do sujeito espremido entre a sobrevivência e suas vontades, representado por outra peça em cartaz em São Paulo: "Contrações", do Grupo 3, de Minas, que tem direção de Grace Passô e elenco com Débora Falabella e Yara de Novaes.

Como na peça com Nanini, o drama da mulher vivida por Falabella é determinado pelo peso de um sistema (des)funcional. Ela trabalha em uma empresa que proíbe relacionamentos amorosos entre funcionários. Acaba num círculo de ações que a aniquila física e psicologicamente. Sem piedade.

"Não acho que esse tipo de pressão faça com que meus personagens atuem como idiotas, mas reduz suas atividades a um objetivo só em detrimento de todo o resto, e isso é perigoso", diz o inglês Mike Barlett, autor da peça.

"Perec é irônico não só com o mundo corporativo, mas com a sociedade. É universal o constrangimento do personagem por depender de uma pequena autoridade para ir adiante", afirma Nanini.

Ao falar de suas próprias experiências administrativas, o ator assume que preferiu tomar distância: "Pedir salário é desagradável. Eu me constrangi quando tive de fazer e procurei alguém que pudesse lidar com meus contratos."

O Grupo Tapa, quando montou "Executivos" há dez anos, já apontava o mundo corporativo como símbolo da perda de identidades individuais, com homens negociando armamentos. Clichês? Opressão pode até ser um tema universal, mas atores, médicos ou professores raramente são retratados assim.

"Concordo", diz Mike Barlett. "Uma má companhia de teatro pode escravizar atores, e corporações podem ser legais com funcionários. Mas, quanto mais uma organização está sob a pressão do lucro, mais desumana ela pode ser."


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