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Crítica - Romance

Atriz escreve sobre geração em busca do desbunde perdido

MANUEL DA COSTA PINTO COLUNISTA DA FOLHA

"Fim", de Fernanda Torres, reescreve "Quadrilha" às avessas. Nos versos de Drummond, João amava Teresa que amava Raimundo etc., até que Lili, que não amava ninguém, se casa com J. Pinto Fernandes ""cujo sobrenome burocrático quebra a cadeia, fazendo o encanto naufragar nos protocolos do matrimônio.

Embora não cite Drummond, Fernanda parte daí, da asfixia da vida doméstica e das tentativas de libertação, para escrever um romance em quadros descontínuos.

Em cena, há cinco amigos que viveram desvarios na maturidade e que conservam, até o momento final, décadas depois, as nostalgias e as sequelas físicas da dissipação.

Os capítulos se abrem com a narrativa interior do momento que precede a morte de cada um, seguida de histórias, agora em terceira pessoa, de personagens diretamente tocados (ou mutilados) por eles.

Do velho caquético que vocifera contra a humanidade e a mulher adúltera ao "metrossexual" vítima dos efeitos colaterais do Viagra; do devasso senil que expira na orgia e na droga ao sedutor que leva à loucura a mulher a quem será devotamente infiel, passando pelo pai de família que assume o decoro imposto por sua condição de mulato de classe média, parece que estamos num romance geracional.

Não deixa de ser, mas não o da geração da autora e, sim, o daquela anterior à revolução de costumes dos anos 1960 e 1970 e que, num Rio transformado em Babilônia da contracultura, tentou recuperar o desbunde perdido.

A escrita densa de Fernanda Torres destrincha com sarcasmo os mecanismos mentais desses "Cavaleiros do Apocalipse", que violentam seus valores "burgueses" ao preço do rancor e da crueldade.

"Fim" é um romance sobre a corrida agônica contra o tempo, mas também sobre a ressaca terminal de quem tentou fugir, em descompasso, da "vida besta" de que falava Drummond.


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