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Paolo Taviani - Cineasta

O cinema não é capaz de transformar o mundo

AOS 82, CINEASTA ITALIANO COMENTA A PARCERIA DE MEIO SÉCULO COM O IRMÃO VITTORIO

FERNANDO MASINI DE SÃO PAULO

Paolo Taviani, 82, é vizinho do irmão Vittorio, em Roma. A proximidade é útil aos cineastas italianos, que filmam juntos há mais de 50 anos.

Eles não são os únicos a dividir a direção, mas são pioneiros. Criaram obras como "Pai Patrão" (1977), premiado em Cannes, e "A Noite de São Lourenço" (1982), sobre uma comunidade na Toscana acossada por nazistas.

Parte da filmografia poderá ser vista a partir de amanhã no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, incluindo o último trabalho da dupla, "César Deve Morrer" (2012), premiado em Berlim.

Rodado numa prisão, o longa mostra detentos montando uma peça de Shakespeare na qual as tramas se misturam às intrigas internas.

Paolo falou à Folha por telefone. O diretor viria para a mostra, mas cancelou a viagem ontem, por causa de uma hérnia de disco.

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Folha - O sr. tem 82 anos e continua fazendo cinema. Como se sente?
Paolo Taviani - No último filme que fiz com Vittorio, em 2012, sentimos a mesma energia de quando fizemos o primeiro. Embarcamos com o espírito de jovens.

Até quando pretendem dirigir?
Não sei até quando. Enquanto tivermos vontade, vamos continuar fazendo.

De que modo o seu olhar para o mundo mudou?
Não é uma pergunta fácil. Vimos muitas transformações: o nascimento e a decadência das ideologias, o nascimento de um grande cinema quando chegamos a Roma, vindos de San Miniato [na Toscana]. Foi a época do neorrealismo italiano.

Um movimento que influenciou a carreira de vocês, certo?
Sim, começamos com documentários, registrando a realidade que estava ao nosso redor, com a preocupação de não fazer julgamentos, como estudantes aprendendo sobre a experiência de viver.

Como é trabalhar com seu irmão após mais de 50 anos?
Há quase uma epidemia de irmãos trabalhando juntos no cinema. Os Coen são ótimos, os Dardenne também. Cinema é como construir uma catedral: não é possível fazer sozinho. Música, fotografia, montagem são todos determinantes para compor a obra.

Ouvi dizer que vocês se comunicam por olhares.
Não é assim. Nos revezamos na direção. Enquanto um fala com atores, o outro cuida da câmera. Claro que, quando um não está de acordo, basta um resmungo ou um olhar para mostrar a insatisfação.

Você pensa o cinema como forma de mudar o mundo?
O cinema representa a vida, mas não muda o mundo. Pode antecipar o amanhã, mas isso não quer dizer que vai revolucionar o mundo. A arte é importante para exprimir sentimentos.

Como foi filmar numa prisão?
Uma grande aventura humana e artística. Uma das últimas cenas mostra um dos detentos dizendo: "Quando encontrei a arte, esta cela tornou-se uma prisão". A arte serviu para eles entenderem coisas que não captavam antes.

Como vê a Itália hoje?
O governo Berlusconi é um dos piores momentos da história. O cinema foi ignorado.

Qual será seu próximo filme?
Só posso antecipar que se passará na Toscana.


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