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Energia do samba foi essencial para Calder, diz neto

Herdeiro que criou fundação para cuidar da obra do avô planeja megaexposição do escultor americano no Brasil

Artista, tema de mostra em Los Angeles, morreu sem saber por que escultura para Brasília nunca foi aprovada

FERNANDA EZABELLA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES (EUA)

Alexander Rower tinha apenas 13 anos quando seu avô morreu, mas lembra bem da trilha sonora que embalava o artista em seu estúdio. "Ele adorava seus discos de samba", diz o neto de Alexander Calder (1898-1976) e criador da Calder Foundation, responsável pela catalogação de mais de 24 mil obras do escultor americano.

"Ao voltar do Brasil [1948], ele passou a dar festas de samba em sua casa em Connecticut que duravam três, quatro dias, com gente desmaiada pelos cantos", contou Rower à Folha, na abertura de uma mostra de Calder em Los Angeles, em cartaz até julho.

"Meu avô apareceu em fotos de tabloides dançando com mulatas nas favelas do Rio como se fosse um escândalo. Ele não ligava. A energia do samba foi essencial em sua vida", diz.

Rower deixa escapar que anda em conversas para uma "megaexposição" de Calder no país. "Estamos explorando", diz o neto de 50 anos, vestido com uma camisa aberta no peito para mostrar a joia dourada que leva no pescoço, obra do avô.

Ele conta que Calder morreu sem saber por que a escultura encomendada por Oscar Niemeyer para Brasília em 1959 nunca foi aprovada. O artista americano criou uma série de móbiles em pequena escala para escolher o mais apropriado à nova capital e pagou do próprio bolso para fazê-lo em tamanho intermediário, uma obra que hoje está na Fundação Pierre Gianadda, na Suíça.

"Ele passou anos perguntando a Niemeyer e [Mário] Pedrosa o que estava acontecendo. Quanto mais eu pesquiso, me parece que no final o projeto não foi aprovado porque ele não era brasileiro. As pessoas têm vergonha de me dizer."

Rower começou a Calder Foundation dez anos após a morte do artista, que conseguiu se manter influente atravessando diversos movimentos artísticos, a começar pela vanguarda parisiense dos anos 1920. "Tem gente que acha que ele é contemporâneo de Warhol, quando na verdade é de Léger", diz Rower, orgulhoso.

Em Los Angeles, o Lacma (Museu de Arte do Condado de Los Angeles) expõe a partir de amanhã cerca de 50 esculturas abstratas de Calder, realizadas ao longo de seus 40 anos de carreira.

A exposição foi desenhada pelo arquiteto Frank Gehry, com divisórias que cortam o espaço em grandes curvas, dando às dezenas de móbiles um espaço individual.

A tentação é dar uma assopradinha para ver as obras em ação. "Não pode", avisa a curadora Stephanie Barron. "Temos correntes de ar que saem do chão e são bem discretas. É preciso esperar e observar. É uma exposição para desacelerar."


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