Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrada

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Mostras celebram 60 anos da obra de designer pioneiro

Alexandre Wollner ganha retrospectiva em Frankfurt e individual em SP

Artista está por trás de marcas que ficaram no imaginário do país, como os logos do Itaú e das sardinhas Coqueiro

SILAS MARTÍ ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

Quando fregueses de sua mãe costureira pediam um vestido novo, ele copiava com exatidão os modelitos das últimas revistas francesas. Na escola, perdia o recreio para refazer no quadro-negro os desenhos do corpo humano para as aulas de anatomia.

Seis décadas depois, aquele garoto que dizia ter "dificuldade para entender coisas científicas e racionais" se tornou um dos maiores designers do Brasil --ironia ou não, na corrente mais racional e científica de todas elas.

"Eu sempre soube desenhar e queria desenvolver isso", conta Alexandre Wollner. "Sabia o que era fazer desenho, mas não o que significava desenho industrial."

Pioneiro do que se entende por design no país, Wollner, 85, cria desde os anos 1950 identidades visuais que ficaram no imaginário do país, do símbolo do banco Itaú às antigas embalagens das sardinhas Coqueiro. O traço em comum entre elas é um certo equilíbrio e uma rígida precisão geométrica.

"Nada pode ser feito sem seguir uma proporção, senão tudo cai", diz Wollner. "A geometria existe há mais de 2.500 anos, com Pitágoras."

Nos 60 anos de carreira de Wollner, completados agora, o Museu de Arte Aplicada de Frankfurt dedica ao designer a maior mostra já realizada sobre sua trajetória, que vai até fevereiro do ano que vem.

Enquanto isso, ele refaz os trabalhos que se perderam depois de uma mostra em Zurique em 1960, numa exposição agora em cartaz na galeria Dan, em São Paulo.

Essas obras extraviadas também se ancoravam no rigor da geometria, com eixos de triângulos que aumentavam e diminuíam de acordo com a composição. Lembra bastante o que Wollner fez para o cartaz da 3ª Bienal de São Paulo, em 1953, exposto agora em sua mostra alemã.

De fato, foi no meio do século 20 que a geometria ganhou corpo como linguagem da identidade nacional de um Brasil que buscava se firmar por meio da indústria. Nas comemorações dos 400 anos da fundação de São Paulo, em 1954, Wollner criou cartazes com quadrados, retângulos e espirais que se desenrolavam seguindo a proporção áurea.

Nessa altura, ele já militava no grupo Ruptura, que reunia os concretistas paulistas, e organizava no Masp a mostra do artista suíço Max Bill, considerado um dos maiores mentores ideológicos da arte concreta criada no país.

Bill quis levar Geraldo de Barros, colega de Wollner no grupo Ruptura, para a Escola Superior da Forma, em Ulm, na Alemanha, uma espécie de reencarnação da Bauhaus, instituição criada em 1919 que revolucionou a ideia de design para sempre.

Mas Barros, então recém-casado e funcionário público, não aceitou a oferta. Wollner acabou entrando na escola alemã, onde conseguiu desenvolver seu vocabulário geométrico amparado na experimentação visual de uma vanguarda então nascente.

"Essa escola abriu minha cabeça", lembra Wollner. "Foi uma revolução, eu me tornei uma outra pessoa."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página