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Pesquisa traz à tona trabalhos perdidos de Flávio de Carvalho

Peças do artista, garimpadas em depósitos públicos de São Paulo, estarão em mostra na Oca

Entre os achados estão figurinos para o balé 'O Cangaceiro', de 1954, e as plantas originais das casas na alameda Lorena

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Mais do que artista plástico, Flávio de Carvalho, morto aos 73 há 40 anos, foi engenheiro, arquiteto, cenógrafo, diretor teatral, performer, designer e cineasta frustrado. Também acabou sendo vítima dessa pluralidade estonteante, já que parte de sua obra acabou espalhada --às vezes esquecida-- em arquivos e depósitos públicos.

Ele tentou refundar os costumes, revendo a moda europeia no clima tropical, reinventando a ideia de moradia ao construir uma vila modernista na alameda Lorena, em São Paulo, e pregando uma arquitetura "nua e lisa". Agora, tem uma parte de sua história desenterrada.

Um garimpo feito no Theatro Municipal, em salas da biblioteca Mário de Andrade e até em fundos de gaveta do Arquivo Histórico trouxe à tona uma série de trabalhos até agora dados como perdidos. A pesquisa foi feita nos últimos meses pela equipe do Museu da Cidade, responsável pelo acervo municipal.

Entre as obras estão 12 figurinos do balé "O Cangaceiro", encenado por Carvalho nas comemorações dos 400 anos de São Paulo, em 1954, e as primeiras plantas das obras na alameda Lorena.

O Museu da Cidade tentará integrar agora esses itens à coleção de arte de São Paulo, fazendo saltar de quatro para cerca de 40 o número de obras de Carvalho catalogadas no acervo público.

Esse conjunto recém-descoberto também será o ponto forte da ocupação da Oca pela coleção da cidade a partir de janeiro do ano que vem, que estreia com uma grande mostra dedicada ao artista.

"Estamos tomando o caso do Flávio de Carvalho como referência para pensar os objetos na coleção", diz Afonso Luz, diretor do Museu da Cidade. "Essas peças são documentos vivos da história."

Mas, segundo Luz, o esquecimento delas se deu por causa do "olhar conservador sobre seu significado estético".

"Temos o desafio de organizar milhares de bens culturais guardados em inúmeros depósitos e reservas técnicas espalhadas pela cidade", afirma. "Um dos motivos dessa dispersão é que o conceito corrente de artes visuais é de objetos de parede, obras que funcionam como decoração."

ELO PERDIDO

Os vestidos desenhados por Carvalho para "O Cangaceiro" representam uma espécie de elo perdido na trajetória do artista --um contraponto aos experimentos com moda nas performances que ele orquestrou.

Enquanto Carvalho trouxe aspectos femininos ao guarda-roupa do homem em 1956, quando caminhou de saia e meia arrastão pelo centro da cidade na ação "Experiência nº 3", os vestidos de seu balé eram masculinizados, algo entre o sensual e a robustez de jagunços.

Também têm grande ressonância agora as plantas originais da alameda Lorena. Com as casas hoje em grande parte descaracterizadas, algumas funcionando como lojas, os documentos podem servir de base para um restauro das construções que Carvalho criou nos anos 1930 como "máquinas de morar".


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