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Crítica biografia

Pete Townshend, do The Who, faz autobiografia dilacerante

CADÃO VOLPATO ESPECIAL PARA A FOLHA

Se o rock vive de momentos mitológicos, Pete Townshend, o guitarrista da banda The Who, providenciou a sua alegoria mais rebelde ao destruir as inúmeras guitarras que empunhou ao longo de 50 anos de carreira.

Ele era acompanhado alegremente pelo companheiro de banda Keith Moon, que fazia o mesmo com a bateria.

Autobiografias costumam servir para limpar a barra dos autobiografados. Tudo o que eles aprontaram na vida acaba encontrando um sentido e uma redenção. No caso de "Pete Townshend - A Autobiografia", todo mundo se salva, mas a franqueza do autor é por vezes dilacerante.

Townshend, nascido em 1945, é um artista maior do que a vida, um guitarrista barulhento que pensa e que escreve. Tem livros de ficção, foi editor da Faber and Faber.

E ainda por cima compôs todas as músicas de uma das bandas mais importantes da história do rock. Viveu a vida louca dos músicos dos anos 60 e 70 com tudo, mergulhou no álcool e na cocaína, deixou a família de lado, entrou com cartão de crédito num site de pornografia infantil.

Tudo isso ele relata no livro, cuja narrativa se dispersa entre a rebeldia juvenil, as ambições literárias, as mulheres, a bissexualidade assumida sem muito alarde e os bastidores da música.

Autobiografias são escrutínios indulgentes do eu. Uma estrela do rock como Townshend, o homem que girava os braços em hélice, dava saltos no vazio e destruía guitarras, poderia ter elevado essa história à enésima potência, mas o humor e a capacidade de autodepreciação acabaram servindo como antídoto.

Afinal, não dá para levar muito a sério a vida de um sujeito que, de tanto fazer barulho com a guitarra, quase ficou surdo. E que posou para as fotos do interior de sua autobiografia destruindo mais uma vez o instrumento que lhe deu fama. Careca, de cabelos brancos no que sobrou e com um simplório molho de chaves pendurado no cinto. Isso é que é rebeldia.

No final das contas, Townshend é o milionário que bateu um papo com o diabo. "Ele estava tão perto de mim --sentado bem aos pés de minha cama-- que dava para sentir seu cheiro. O odor era nauseante", ele escreveu.

Então, o médico indicou um hipnoterapeuta especializado em alcoolismo. E receitou umas pílulas para dormir. "Para comemorar essa boa virada dos acontecimentos, comprei minha primeira Ferrari... Eu estava me transformando em Keith Moon."

Por essas e por outras é que os roqueiros costumavam morrer tão jovens.

PETE TOWNSHEND - A AUTOBIOGRAFIA
AUTOR Pete Townshend
TRADUÇÃO Cid Knipel Moreira
EDITORA Globo Livros
QUANTO R$ 49,90 (488 págs.)
AVALIAÇÃO bom


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