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Burocracia trava bilhões arrecadados pela Ancine

Maior parte da verba não chega à produção audiovisual; agência culpa o mercado

Lei da TV Paga gerou aumento de quase 17 vezes na arrecadação, mas lentidão ameaça investimentos

MARCO AURÉLIO CANÔNICO DO RIO

Nunca se arrecadou tanto dinheiro para investimento no audiovisual brasileiro: só nos últimos dois anos, foram quase R$ 2 bilhões. Mas a maior parte dessa arrecadação não está chegando a quem faz filmes e séries de TV, por conta da burocracia da Ancine (Agência Nacional de Cinema).

Ciente do problema, a agência pretende anunciar, ainda neste ano, alterações no FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), com novos modelos de financiamento que pretendem dar mais agilidade à liberação dos recursos.

O problema é que parte da verba do fundo ainda não empenhada (mais de R$ 1 bilhão) corre o risco de ser contingenciada pelo governo federal, segundo fontes ouvidas pela Folha.

Ou seja: por não ter conseguido gastar, a Ancine se arrisca a perder parte do que acumulou.

Esse cenário começou a se desenhar com a chamada lei da TV Paga (2011), que fez com que as empresas de telecomunicações passassem a pagar a Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional), que abastece o FSA.

Resultado: a arrecadação para o fundo aumentou quase 17 vezes,saltando de R$ 54,6 milhões em 2011 para R$ 906,7 milhões em 2012, patamar que se manteve neste ano (R$ 977,8 milhões).

Nem todo esse dinheiro vai para o FSA porque o governo pega 20% do valor bruto. Mas o crescimento no orçamento do fundo foi expressivo: de 2007 até junho deste ano, somou R$ 2,02 bilhões.

FATIAS DO BOLO

A Ancine ofereceu ao mercado (produtoras de cinema, de TV, distribuidores e exibidores), no mesmo período, pouco mais de 40% deste total --cerca de R$ 857 milhões.

Por que o restante do orçamento ainda não foi investido? Procurada pela reportagem da Folha ao longo de duas semanas, a Ancine preferiu não responder a essa questão.

"A execução orçamentária dos recursos ocorre em três etapas, empenho, liquidação e pagamento", disse a agência, via assessoria, por e-mail.

"O saldo entre os valores inscritos na lei orçamentária e os pagos em cada exercício fiscal permanece em restos a pagar' para os exercícios seguintes, respeitando as disponibilidades financeiras do Tesouro Nacional."

O presidente da agência, Manoel Rangel, em seu terceiro mandato, também não quis dar entrevista.

"A Ancine tem absoluta consciência de tudo que está acontecendo, e está tentando superar. Agora, o Estado brasileiro está amarrado, por conta da estrutura burocrática", diz o cineasta Roberto Moreira, um dos integrantes do Comitê Gestor do FSA.

"Entre eles fazerem o concurso e o dinheiro ser liberado, às vezes vai um ano e meio, dois. É muito cruel, porque tem a inflação, você não consegue planejar. A gente tem uma sensação de uma máquina emperrada."

A lentidão do sistema fica evidente quando se compara o total disponibilizado pelo FSA (R$ 857 milhões) com o que foi efetivamente pago até agora: R$ 310 milhões.

REGRAS DO CONTATO

Para a Ancine, a culpa é do mercado. "Todos os recursos disponibilizados nos editais e linhas de crédito contam com disponibilidade financeira para liquidação imediata. A liquidação depende exclusivamente do atendimento pelo privado das condições contratuais pactuadas", disse a agência, via assessoria.

O problema, segundo quem produz, está justamente nas "condições contratuais pactuadas", com regras como a que prevê que os projetos tenham de captar no mínimo 80% de seu orçamento antes de receberem o dinheiro da Ancine.

A esperança do mercado é que as novas regras do FSA, que trarão mecanismos de financiamento automático (o atual modelo é baseado em análise de projetos via edital), agilizem a liberação da verba e, por extensão, o ritmo das produções. Resta ver quanto sobrará do orçamento até lá.


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